Saiu barato para Palocci, não?

Maurício Rands
Advogado formado pela FDR da UFPE, PhD pela Universidade Oxford

Publicado em: 03/12/2018 03:00 Atualizado em: 03/12/2018 12:45

Depois de 2 anos e 3 meses de prisão em Curitiba, o ex-todo poderoso mandarim da economia brasileira no governo Lula volta para casa. Beneficiado por decisão do mesmo TRF da 4a Região que, de regra, tem aumentado as penas dos réus. Como havia feito com Lula e Zé Dirceu. Aceitando a delação premiada feita por Palocci à Polícia Federal, o TRF-4, por 2 x 1, reduziu sua pena e concedeu benefícios pela delação reconhecida. Quando de sua prisão pelo juiz Moro, chegou-se a noticiar que Palocci teria dezenas de milhões de dólares em contas privadas em paraísos fiscais.

Espera-se que algumas precondições tenham sido exigidas no acordo de delação. Que, aliás, deveria ser dado integralmente a conhecer à opinião pública. Não apenas alguns vazamentos pontuais. A primeira precondição deveria ser a imediata devolução aos cofres públicos desses milhões desviados. Quando se sabe que somente na Suíça hoje estão bloqueados mais de US$ 1 bilhão desviados da corrupção em nosso país. Parte significativa em um período em que o personagem mandava e desmandava na economia e nas estatais. Depois, a narrativa não pode ser incompleta ou seletiva. Mormente porque já se conhece o jeito ambíguo, dissimulado, melífluo e esperto do personagem. Especialista em falar para nada dizer. Contumaz e precoce entusiasta da apropriação de recursos públicos. Desde quando foi prefeito de Ribeirão Preto, ao tempo em que seu partido ainda não se tinha contaminado com as velhas práticas de financiamento eleitoral e de enriquecimento pessoal ilícito de dirigentes. Durante o longo período em que foi um dos homens mais poderosos do país, com todo o poder que lhe fora delegado pelo então presidente que hoje o odeia e vilipendia, o ex-ministro era o queridinho do andar de cima. Especialmente da turma das finanças, que sob sua gestão ganhou muito dinheiro. Às vezes, tendo causa direta numa ou noutra norma preparada no forno do seu queridinho.

Espera-se que a sua delação não tenha sido vaga, imprecisa e seletiva. E que tenha apontado elementos concretos para fortalecer as investigações em curso e outras que ainda se fazem necessárias. Espera-se também que se realizem as especulações de que sua delação ajude a punir crimes cometidos na construção de hidrelétricas como Belo Monte, assim como os perpetrados por alguns do baronato das finanças e da grande indústria. Que não tenha contado mais do mesmo e sobre os culpados de sempre. Hoje a nação experimenta um misto de frustração e expectativa diante da volta para casa de Palocci. Que agora poderá, no conforto de sua casa, continuar com suas manipulações. E, quem sabe, administrando indiretamente a fortuna que desviou.

O rigor que está sendo imprimido a quem não delata, como é o caso do seu ex-chefe, pode parecer desproporcional à frouxidão que está sendo concedida a quem opta pela delação premiada. O senso de justiça da população espera que, mesmo obtendo algum benefício por sua colaboração, o criminoso pague por seus crimes. E que seja exemplarmente punido quem teve tanto poder e chegou a ser o provável sucessor do então Presidente da República. Somente assim estará sendo compensada essa estranha sensação que hoje a nação experimenta ao ver em casa um personagem que tanto mal causou ao erário. Voltar para o conforto do lar em tão pouco tempo está saindo barato para quem tem tantas culpas. Inclusive a de ter ajudado a frustrar o sonho de milhões de brasileiros que esperavam que o governo do qual era um dos maiores líderes sepultasse as velhas práticas da corrupção e da injustiça que são a triste sina desse país. 

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