Crianças, livros e beleza

Luzilá Gonçalves Ferreira
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 27/11/2018 03:00 Atualizado em:

Fazia tempo que o Recife não via nada igual. Num concurso de circunstâncias coincidentes, e mais, buscadas, desejadas, programadas, adultos e centenas de crianças, puderam desfrutar de momentos de pura beleza, de descobertas, de aprendizado, de alegria. Aliando-se às comemorações da abertura do Museu da Academia Pernambucana de Letras, a Companhia Editora de Pernambuco promoveu uma feira de livros infantis, de fato um festival de literatura para crianças, nos jardins da APL, nos espaços reservados à projeção de filmes na sala da biblioteca Waldemar Lopes, e no auditório. Uma festa completa que, entre os dias 21 e 25, levou grandes e pequenos a percorrer as salas do Museu, a participar de oficinas diversas, reciclagem de papel para se fazer brinquedos, contação de histórias, projeção de filmes de animação e até encontros com escritores (e escritor é vivo? espantou-se uma menininha de dez anos.) A visita ao Museu (agendamentos podem ser feitos pelo telefone 3268-2211), por pequenos grupos de adultos, encantou sobretudo a gente infantil, “coisa mais linda, eu nunca tinha entrado numa casa assim” falou um menino, os olhos brilhando. E adultos e crianças aprenderam um pouco de nossa história, de como se vivia no século 19, com os guias formados de gente nossa, secretárias, bibliotecárias, ou por acadêmicos, como Ana Maria César, Cicero Belmar, a própria Margarida Cantarelli. Souberam o que era uma Academia de Letras, olharam os retratos, os livros expostos, tudo tão bem organizado que levou uma aluna de escola de primeiro grau a nos invejar e afirmar: Quando eu crescer, vou ser presidente da Academia. E acrescentara juro, para surpresa de nós  todos: “É preciso sonhar alto”. A presença infantil já havia inaugurado a abertura do Museu, dias antes: um coral de crianças do Colégio Santa Maria comoveu, arrancou lágrimas, entoando, na escada que leva ao primeiro andar do prédio, a Ave Maria de Schubert, em latim! Haja coração. A Feira de Literatura Infantil levou à Academia crianças da rede privada e da rede oficial,  escolas do estado e da prefeitura do Recife. E era de se ver descerem dos ônibus, lindos, entrando nos jardins em perfeita ordem, silenciosos até, impressionados com a beleza do lugar. Sob a orientação das professoras, colocaram as sacolas nos lugares indicados e iniciaram a visita, só ouvidos e olhares, obedientes, ninguém pode tocar em nada, foram avisados. O mais surpreendente destes dias de Festival, além da acolhida a autores infantis como Leda Sellaro, Cleyton, Cabrall, esta colunista, foi o numero de pequenos visitantes, muitos não ligados diretamente a escolas programadas. Como a menina de 12 anos que nos visitou e, dia seguinte, trouxe os pais. Pois só entre os dias 21 e 22, pasmem, a APL registrou mais de 1.120 alunos de escolas. Particulares. como Polichinelo, Reino da Carochinha, Damas, S. Luis. De organizações outras como Pró-Criança, Em Cena, Compaz. De bairros diversos, escolas públicas, de Casa Amarela, do Alto do Céu, escolas Darcy Ribeiro, Poeta Paulo Bandeira da Cruz, Vila Santa Luzia, Diácono Abel Gueiros e tantas outras,  as crianças lindinhas, uniformizadas, sorridentes. E ao lado delas: a dedicação, o carinho, na vigilância das professoras (no geral tão mal recompensadas financeiramente, para nossa tristeza e vergonha), dedicação e carinho que a gente sentia no cuidado, com que comandavam os educandos. Gente, quem falou que o Brasil não tem jeito?


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