Mais do que promissor

José Luiz Delgado
Professor de Direito da UFPE

Publicado em: 23/11/2018 03:00 Atualizado em: 25/11/2018 21:07

Não poderia ter começado melhor o futuro governo. Escolher Sérgio Moro para o fortalecido Ministério da Justiça, e lhe dar carta branca, não é apenas escolher personalidade íntegra, respeitada e competente. É um sinal, um símbolo. Indica claramente o rumo e o critério do futuro governo. Quem escolhe Sérgio Moro não vai tolerar corrupção, e muito menos vai praticá-la. Significa que quer que investigações se façam, amplas e implacáveis, doem em quem doerem. Significa que não tem medo de ser investigado e significa sobretudo que não trilhará o caminho da corrupção, não promoverá licitações fraudadas, não insinuará superfaturamentos, não fará conluios com empreiteiras, não venderá medidas provisórias, não mandará “laranjas” receberem e transportarem malas de dinheiro, não receberá nem transferências para contas no exterior, nem doações para esposa (viva ou falecida) ou filhos, seja em dinheiro vivo seja em generosos presentes de apartamentos e sítios.

Pode-se, agora, com a ida para o ministério, colocar sob suspeição as sentenças do juiz Sérgio Moro, porque teriam sido políticas? Óbvia fantasia de quem vive no mundo da Lua e quer inventar pretextos, assim como inventam “medos”, terríveis medos, coitadinhos, temores disso ou daquilo, delírios de direitos que estarão ameaçados, democracia que está em risco... Debiloidices de maus perdedores, que não aceitam a expressa vontade popular, alucinações de autoproclamados defensores do “povo” que não veem e não podem admitir que o povo (que dizem defender) está do outro lado. As condenações foram proferidas em processos judiciais, com ampla defesa, atingiram políticos de partidos não só diferentes mas inclusive contrapostos, foram referendadas (e até agravadas) por tribunais superiores, tudo muito antes da campanha eleitoral, muito antes de Bolsonaro apontar como favorito. Nada uma coisa tem com a outra. Uma vez proferidas aquelas sentenças condenatórias que, pela primeira vez na nossa história (“nunca antes na história deste país”...) ousaram enfrentar os poderosos e colocar na cadeia alguns dos grandes deste mundo – grandes do poder, do governo, do parlamento, dos empresários, da péssima elite nacional, – o convite para o ministério, muito mais do que natural, é sobretudo um gesto de coragem, a afirmação inequívoca da nenhuma tolerância do futuro governo com a corrupção.

Governar é sobretudo definir prioridades e escolher auxiliares. Escolhendo Sergio Moro (cujo espírito público o levou a aceitar o desafio – para o que teve de renunciar a não pouca coisa: a toda uma carreira de magistrado, a importante cargo efetivo conseguido por concurso e exercido com desassombro), o governo afirma claramente que de modo algum tolerará a corrupção – nem a alheia, nem a própria; não a dos adversários (que nos governos do passado recente tanto dela se fartaram) e também não a dos amigos. Só isso, um governo claramente comprometido com a não corrupção, só essa certeza de que o governo não estará interessado em desviar dinheiro público, em enriquecer pessoalmente ou em encher as burras do partido para garantir reeleições e se eternizar no poder, a fim de consumar o seu projeto totalitário de esquerda   – é um quase sonho, quase inacreditável esperança para a mudança profunda de que a vida política brasileira desesperadamente necessita. 

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