Do lado das mulheres

Luzilá Gonçalves Ferreira
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 20/11/2018 03:00 Atualizado em:

Andei procurando um título para a coluna de hoje e muito insistente e talvez mesmo pedantemente, só me vieram essas palavras que remetem (que o colega Paulo Gustavo, especialista em Marcel Proust, me perdoe ) aos romances do autor de Em busca do tempo perdido. Du côté des femmes aqui, tem a ver com um fenômeno novo que está acontecendo no Recife, em Pernambuco e certamente em muitas outras partes do Brasil: existência de vários grupos, só de mulheres, que se reúnem periodicamente para ler e discutir literatura, todas interessadas em conhecer romances, de autores ou autoras de várias nacionalidades que tenham como personagens centrais, figuras femininas. Essa simpática atividade assim funciona: o grupo indica um livro. Aquisição feita do título escolhido, cada uma das leitoras faz sua leitura particular, segundo o tempo disponível.  Então todas se encontram, num café, num restaurante, para trocar ideias, repartir experiências pessoais proporcionadas pela leitura, sem preocupações acadêmicas mas só pelo prazer de ler e o enriquecimento que dele sempre provem, do ponto vista estético, de crescimento intelectual ou humano. Entre esses grupos, cito de passagem, Flores Literárias, formado por mais de vinte mulheres que há pouco leram Umbelina e sua grande rival, de Cícero Belmar. A Confraria das Artes, que, animadas por Diana, Bernardete e Sandra, agrupa cerca de 40 grandes leitoras e no mês passado se debruçou sobre O tom azul, de Ana Maria César. Marianne Biggio e Susana Moraes, ao lado de outras escritoras, formam um grupo que produz, publica e dramatiza,  literatura de cordel para crianças. A professora Maria Tereza Pezzolini anima um grupo de mulheres, de todas as idades, que afirma simplesmente gostar de ler e conhecer os julgamentos de outras pessoas, sobre o livro lido. Além desses grupos, nos quais em geral menino não entra, existem entre nós, amigos que se encontram para estudar os mistérios e caminhos possíveis da escrita literária, como aquele formado por Lúcia Moura, Cícero Belmar, Gerusa Leal, Raimundo de Moraes, Cleyton Cabral. A escritora Patrícia Tenório organiza encontros sobre Escrita Criativa. Poetas do Pajeú continuam lendo e escrevendo na melhor tradição da poesia de cantadores e criadores. E ainda, amigos que criaram e publicaram volumes de poesia e prosa sob a inspiração de Celina de Holanda. Afora todos esses  amantes e servidores da literatura, encontramos Pernambuco afora, Nordeste afora, criadores mais solitários, jovens ou menos jovens, estreantes ou não, acreditando no poder da palavra e seu alcance sobre corações e mentes, criando beleza em prosa ou em verso. São muitos, ultimamente.  Francisco de Barros e Silva, com Engenho canto escuro, Paulo Afonso Paiva autor de Aqueles Olhos mutantes, Marcos Alexandre Faber, com O lampejo do vagalume, Wagner Marques, com Isso que escorre, Rejane Paschoal autora de Manuscritos em grafite, Rizolete Fernandes, autora de Luas Nuas, livros que a gente lê com alegria, sempre aguardando que um segundo livro nos entregue o prazer sempre renovado de encontrar almas gêmeas no universo fascinante das belas palavras.

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