Sobre o fenomenal Gena - um homem de bem

Moacir Veloso
Advogado

Publicado em: 19/11/2018 09:00 Atualizado em:

Na estrada da minha vida, convivi com muitas pessoas, dentre elas, uma que muito me honrou. O Senhor Genival Costa de Barros Lima, o fenomenal Gena. Entre 1963 e 1965, embora rubronegro de nascença, fui atleta das divisões inferiores do Náutico. Era goleiro do infantil e do infanto juvenil. Durante os treinamentos tive, junto com meus companheiros de equipe, o privilégio de conviver com os atletas que formaram a base do time que levou o Náutico a conquistar o seu emblemático hexacampeonato. O então juvenil do Náutico tinha a seguinte escalação: Gilberto, Gena e Nereu; Laursa, Gilson Saraiva e Toinho; Silvio,  Miro,  Nino, Didica e Lála. A maioria desses atletas eram originários dos bairros de Santo Amaro e Campo Grande. O nosso treinador, Baenedito Gomes, o Seu Biu, vez por outra, nos levava para as cadeiras cativas do estádio, para, de lá observar os treinos coletivos, protagonizados pelo juvenil, aspirante e o profissional, à época denominado time de cima. Numa dessas ocasiões, estávamos assistindo um treino coletivo entre o juvenil e o profissional, a essa altura já chegando ao bicampeonato pernambucano. Foi quando vi pela primeira vez Gena jogando, e sua extraordinária performance  como lateral direito, posição que ocupou até o final de sua carreira. Seu Biu assinalou: Prestem atenção ao Gena, ele só dá dois toques na bola.Por incrível que pareça, Gena na sua função de lateral direito recuado, realmente só tocava a bola duas vezes; recebia-a e passava-a adiante. Esse elenco que hoje sería um sub-20, chegou a passar todo um campeonato sem levar um gol. A única bola que entrou fê-lo perder o título. Foi numa final  mata mata, (na prorrogação, sem tempo definido à época,  quem fizesse um gol ganhava), contra o Santa Cruz, que sagrou-se campeão  da categoria, com um gol de Avú. O tempo passou, Gena foi hexacampeão pelo Náutico e pentacampeão pelo Santa Cruz.  Ocorreu que o simplório, humilde e ingênuo  Gena, o índio, na intimidade, durante boa parte de sua brilhante carreira, contratou um procurador para  gerir suas finanças. Tudo que ganhava ia para as mãos do procurador, o que hoje sería seu empresário. Lembro-me que investia em farmácias. O Indio deixou o futebol, e o seu legado financeiro continuou administrado pelo tal procurador, até que no inicio dos anos 90, veio o escândalo: o procurador se apropriou de todo o patrimônio que Gena construiu durante toda sua carreira, deixando-o pobre. O fato teve intensa repercussão na mídia, e aí veio o absurdo: o tal procurador ameaçou-o de entrar com uma Queixa-crime, dizendo-se caluniado pelo Índio. Foi quando ele me procurou para defendê-lo. A mídia divulgou amplamente o episódio, o gatuno assustou-se e desistiu a tempo. É que, na hipótese de Gena, além de roubado, ser processado, não teriamos dificuldades em absolvê-lo,  argüindo em Juízo, a Exceção da Verdade. Traduzindo, produziriamos provas mais do que suficientes, de que tudo o que foi dito por Gena e pela mídia realmente aconteceu. Gena jogou futebol por mais de 20 anos, e tudo que amealhou saiu pelo ralo da conta bancária do seu malsinado procurador. A sua salvação, foi um cargo na Prefeitura Municipal do Recife, que exercia desde que abandonou o futebol, nomeado por influência dos inúmeros amigos e admiradores que conquistou ao longo de sua vida. Gena foi um exemplo de ser humano. O egoísmo, a vaidade e o orgulho não integravam a sua singular personalidade. Amava o próximo e todos o amavam. Fez uma legião de amigos, admiradores que hoje prestam-lhe as mais justas e merecidas homenagens. O Homem de Bem, Genival Costa de Barros Lima, foi muito maior do  que o lateral direito Gena, cujo estilo clássico, viril e objetivo, encantou o futebol pernambucano. Adeus, querido Gena. A sua performance agora é no Paraíso.

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