A velha escrita

Nagib Jorge Neto
Jornalista e escritor

Publicado em: 19/11/2018 09:00 Atualizado em:

Antes das redes sociais, das notícias falsas (fake news), a mídia eletrônica teve um papel decisivo na campanha contra as forças de esquerda, partidos políticos e a política. As emissoras de televisão, rádios, sítios – de direita e de evangélicos, – agronegócio e Judiciário, atuaram de forma unânime na cruzada contra as lideranças políticas, com denúncias de corrupção, ineficiência, pobreza e risco de comunismo. As delações, denúncias, eram diárias e também divulgadas pelos impressos com mais detalhes, questionamentos, deixando espaço para refletir sobre os fatos e conteúdo.

Além das matérias, das páginas de opinião, a velha escrita assumia uma postura crítica, que vingou a partir de 2013, sem a força dos anos 1963/64, quando os grandes jornais decidiram reagir aos vitoriosos do movimento que depôs João Goulart – o regime passou a cassar, prender e censurar a imprensa. Naquela fase os analistas acusavam a esquerda, os partidos aliados de Jango, de tentar transformar o país numa república sindicalista e socialista.

Nada daquela versão, frequente na mídia eletrônica, tinha fundamento.  Agora culpam a esquerda por não usar os recursos da tecnologia, da demagogia, da repressão/negação, baseada na “metamorfose ambulante”, de Raul Seixas. Eles ignoram que Haddad, sempre coerente, fez a defesa dos mais pobres, da liberdade, dos direitos e conquistas sociais, do livro e do trabalho, sem armas e mortes. Em síntese, o velho era o novo, sem ódio e sem medo de ameaças, mas a mídia foi parcial e se limitou a destacar  as postagens de Jair Messias sem questionar suas mutações e contradições.

Além dessa tendência, que foi marcante no impedimento da ex-presidente Dilma Rousseff, acusada de emitir sem lastro e crime de responsabilidade, instrumentou a campanha para acusar e prender o ex-presidente Lula, com base em delações - que agora estão sendo requentadas - divulgadas ilegalmente pelo juiz Sérgio Moro. Nesse sentido a velha imprensa acolheu críticas e o Estado de São Paulo, em editorial, acusou a Lava-Jato de contribuir para a quebradeira no país.

Tal posição da imprensa escrita, que era forte na década de 1960,  difere da atual - a crise dos impressos reduz o seu papel nesta década de volta da direita ao poder. É pequena a sua influência na batalha que vingou nos Estados Unidos - onde Trump usou tais métodos – e os jornais, revistas, impressos ou digitais, estão sendo vitais para defender os direitos e conquistas sociais. De resto, os analistas do processo, das redes sociais e fake news,  esquecem a influência de Trump e sua campanha contra o jornalismo. E de associações de supermercados, de outros grupos nacionais e externos, para derrotar os partidos de esquerda, que conseguiram sobreviver, sobretudo no Nordeste, área de resistência ao arbítrio no império e de revoluções libertárias, que resultaram na instalação das Assembléias Legislativas Provinciais. 

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