Novembro de entrelaçados encontros e desencontros

Marly Mota
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 12/11/2018 03:00 Atualizado em: 12/11/2018 14:31

As permanentes lembranças, de encontros e desencontros em alguns meses de novembro, despertando lembranças, levando-me ao passado: minha mãe Maria Digna nasceu em 20 de novembro, de 1899 e faleceu em 26 de novembro de 1999, faltando 5 meses para completar seu centenário. Deixou lembranças inapagáveis, em todos que conviveram com a sua alegria e fortaleza, em nós os filhos, pelo hábito de tomar-lhes à bênção, antes de dormir e ao levantar. O encanto da sua voz, acalentando o meu irmão caçula com a canção, Tão Longe, do genial compositor Carlos Gomes. Até hoje, sei a letra e música. Meu pai foi músico, nos contou que Carlos Gomes, compôs a ópera, O Guarani baseado no romance homônimo do romancista cearense José de Alencar. A minha disposição afetiva me acompanha sempre.

Na casa colonial de passadas gerações, via-se da janela do espaçoso sótão uma paisagem de serras, sobrepostas umas às outras, limitando o horizonte. O quintal murado abrigava os cajueiros, mangueiras, jaqueiras, de onde cigarras ao entardecer recomeçavam o canto da manhã. Meu pai comprara uma casa no Recife, bairro da Madalena, para facilitar nossos estudos e as do meu pai à Receia Federal, onde fora nomeado por concurso, em novembro de 1927, pelo presidente Washington Luiz, para auditor fiscal do Tesouro Nacional.

Enquanto não chegava o dia da nossa mudança ao Recife, do Engenho Santa Cruz, dos meus avós paternos, viera Sá Ana, para trabalhar na casa dos meus pais recém-casados, ajudando minha mãe a cuidar dos meus irmãos. Antes mostrara seus dotes culinários, introduzindo o seu apreciado prato “ Teimoso”. Desde então sempre presente, à nossa mesa.

Em novembro de 1944 em plena 2ª Grande Guerra Mundial, bem próximo à minha casa, avistei um vulto à varanda, parecia gostar de ouvir do meu piano o som da Valsa Op. 64 nº 2 de Chopin. Minha prima Heloisa, teimosa dizia: Não é vulto. É o estudante de medicina Sebastião Fonseca. Para os íntimos Baião. Sem pretensão, já nos olhávamos com afeição. Naquele tempo diziam; Estão “tirando linhas’, eu diria, linhas de afetos. Bons tempos!

As conversas continuavam, os parentes mais velhos sentados, entre eles o tio Tavinho, Otaviano Gonçalves da Motta Silveira, meu tio bisavô e sua única filha, Maria do Carmo, voluntariosa e mimada por ele, e por Beata que a criou, deixava que ela tirasse da valiosa coleção de imagens de Arte Sacra, o menino Jesus dos braços de Santo Antonio, para os braços dela, para brincar. Meu tio Tavinho era vaidoso, Em certas ocasiões vestia galhardamente o seu fardão de tenente coronel da Guarda Nacional, nas festas da Igreja Matriz, e nas de maior brilho da municipalidade. Ali entre velhos conhecidos, conversando tomando o seu vinho, enquanto torcia as pontas do seu bigode.

Outro novembro este de saudosa memória. Há 34 anos morria no seu amado Recife o grande poeta Mauro Mota. Como é de costume meus filhos Eduardo e Maurício, vão ao Santo Amaro dia de “Finados,” depositar flores amarelas a cor predileta do poeta aos pés do seu túmulo.

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