Editorial Combate à corrupção endêmica

Publicado em: 10/11/2018 09:00 Atualizado em:

A Operação Capitu, desdobramento da Lava-Jato, mostrou, mais uma vez, que a corrupção é endêmica na estrutura do Estado brasileiro. Na manhã de ontem, policiais prenderam o empresário Joesley Batista, dono da J&F/JBS, o vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade (MDB), e o ex-ministro da Agricultura Neri Geller (PP-MT), reeleito deputado federal nas eleições deste ano. Além deles, sete pessoas estão sendo investigadas por pagamento de propina para um grupo que agia na Câmara dos Deputados e no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) entre 2014 e 2105 — governo Dilma Rousseff.

Pelo menos R$ 7 milhões foram distribuídos entre funcionários e políticos em troca de decretos que permitiriam ao grupo ter o monopólio na exportação de carcaças e outros produtos de origem animal, em detrimento de empresas menores que atuam no mercado de proteína animal. Com Joesley, foram presos os ex-executivos do grupo JBS Ricarddo Saud e Demilton De Castro. Beneficiados pelo instituto da colaboração premiada, eles perderam credibilidade quando a Polícia Federal constatou que não conseguiram fornecer os elementos necessários para comprovar as denúncias e, ainda, estavam tentando obstruir as investigações, o que prejudicava a instrução criminal.

As evidências deram o nome à operação: Capitu é personagem dissimulada da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. O marido desconfiava de que ela o teria traído com o melhor amigo. Na trama real, personagem da quadrilha sentiu-se traído na distribuição de propina, razão pela qual denunciou o fato. Por meio de uma grande rede de supermercados, cujo nome a Polícia Federal ainda não revelou, os envolvidos montaram esquema para lavagem de dinheiro, que era transportado em malas e até em caixas de sabão. Hoje, os investigadores apuram indícios de que algumas candidaturas foram custeadas por essa fraude.

Esquemas para compra de normas ou para criação de marcos legais não surpreendem. As muitas fases da Lava-Jato têm mostrado que legisladores e detentores de cargos de decisão nos governos não recusam favores, sobretudo propina para beneficiar esse ou aquele grupo econômico, pouco importando o prejuízo que as mudanças possam causar à população. A falta de compromisso com o país é notória.

Mudar esse roteiro é um dos grandes desafios do futuro governo, que tem evitado a indicação de partidos políticos para a formação do ministério. O trabalho diligente da equipe da Lava-Jato deve persistir como um dos instrumentos para erradicar a corrupção que permeia o setor público. Dificilmente, será possível calcular os prejuízos que tais crimes causam à sociedade. É evidente que a complexa burocracia do Estado está esgarçada, o que facilita a evasão criminosa do dinheiro do contribuinte. Não basta punir os infratores com o rigor das leis. É preciso banir os bandidos da vida pública. Ações como a Operação Capitu provam que agir contra a lei não compensa. Que venham outras.

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