Uma casa, um museu e nós todos

Luzilá Gonçalves Ferreira
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 06/11/2018 03:00 Atualizado em:

No próximo dia 12, a partir das 16h30, Pernambuco estará recebendo um inestimável presente: a abertura do Museu da Academia Pernambucana de Letras. Um sonho antigo do poeta Mauro Mota, tornado realidade pela atual presidente da Academia, desembargadora Margarida Cantarelli. Um presente mesmo. O chamado casarão de Ponte d’Uchoa, residência do Barão Rodrigues Mendes poderá ser visitado, percorridas suas salas, quartos, apreciados seus jardins, a riqueza do mobiliário da época, a delicadeza dos objetos que compunham uma casa pernambucana no século 19. Um convite ao mergulho na vida diária de parte de nossa sociedade, construída pelo esforço e trabalho de um rapazinho português. Pequeno imigrante sem recursos a não ser o desejo de uma existência melhor, de se inserir no rol dos que vinham ao Brasil em busca de crescimento, de possibilidade de ser alguém. Um longo caminho percorrido, de entrega pessoal, de labuta sem fim, até a participação na vida da cidade, do país, e o reconhecimento final, com a atribuição do título de barão. Organizado como um Museu, com suas características de organização, de disposição de salas, de apresentação de acervo proposto a visitantes, de meios modernos de segurança, de prevenção contra roubos e incêndios, o Museu é também e sobretudo, um resumo da vida da Academia, com a exposição de retratos antigos e obras de acadêmicos, desde sua fundação, até os nossos dias.  Com um objetivo primeiro: a possibilidade de visitas culturais a estudantes de nossa rede de ensino, já incluídas em projeto com a Secretaria de Educação, a estudiosos de parte da história pernambucana, no orgulho de “quem já foi mais”, como escreveu João Cabral de Melo Neto, um dos sócios da Academia. O projeto de um museu, tornado realidade pelo BNDES que o apresentou à Lei Rouanet, captou recursos e os transferiu à Academia, foi tornado realidade segundo as regras da museologia, voltado à comunidade. Um longo percurso, desde a doação do prédio no governo de Paulo Guerra, sob a atuação mais que ativa do então presidente Marcos Villaça, sem contar com o que tantos membros da sociedade pernambucana deram de si, de seus pertences, quadros, retratos, móveis, instrumentos musicais, livros, tapetes, lustres, objetos diversos que compunham um cenário de vida, oferecida ao visitante curioso ou desejoso de conhecer um pouco mais da beleza do que fomos e ainda somos. Um acontecimento na vida cultural do Recife. Que se fará, com uma grande coincidência que não se previu: o Barão Rodrigues Mendes faleceu num 11 de novembro e seu velório se deu no dia 12. Nota: a entrada para o estacionamento se fará pelo novo portão, na Avenida Malaquias.

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