Editorial Onde está o Itamaraty?

Publicado em: 06/11/2018 03:00 Atualizado em: 06/11/2018 13:52

O Brasil tem uma das diplomacias mais respeitadas do mundo. Com quadros técnicos qualificados, está apta a prestar as informações necessárias à tomada de decisões do futuro governo Bolsonaro. É importante que o Itamaraty seja convocado para acabar com a babel de diz que diz que tomou conta do país no tocante às relações internacionais.

A campanha eleitoral acabou. Durante a corrida para a conquista do eleitor, candidatos fazem promessas inconsequentes. Sabem — pela nossa cultura política — que o vento leva palavras proferidas no palanque. Abertas as urnas, porém, o vitorioso precisa de um choque de realidade. A regra vale também para a equipe de transição do presidente eleito.

Na última semana, declarações sobre política externa provocaram curtos-circuitos com potencial de prejudicar o país comercial e diplomaticamente. É o caso de acabar com a neutralidade da diplomacia em conflitos regionais e disputas econômicas globais. Se a iniciativa for concretizada, o país perderá o status de interlocutor confiável duramente conquistado ao longo da história. Em bom português: jogará na lixeira a liberdade de atuar sem restrições no delicado concerto das nações.

Outras medidas polêmicas também tiveram o poder de trazer sérias preocupações internas e externas. Entre elas, deixar em segundo plano o Mercosul, afastar-se dos vizinhos mais próximos e criticar as relações com a China — o maior parceiro comercial e o maior investidor no país. É o caso também da sensível questão de deslocar a embaixada do Brasil para Jerusalém a exemplo dos Estados Unidos.

As consequências vêm depois, como repete o conselheiro Acácio, personagem de Eça de Queirós. E são preocupantes. Muito preocupantes. De um lado, a ação interrompe árduo e contínuo trabalho de parceria com os países árabes — quinto destino das exportações brasileiras e potenciais investidores em projetos de infraestrutura. Recursos não lhes faltam. Vale lembrar que são os maiores produtores de petróleo do mundo e detentores de 40% dos fundos soberanos do planeta.

De outro lado, a iniciativa vai em sentido contrário ao entendimento da comunidade internacional. A Organização das Nações Unidas não reconhece Jerusalém como capital indivisível de Israel. Jerusalém Oriental é reivindicada pelos palestinos para capital do futuro Estado. Não só. Além de se indispor com o mundo árabe, o Brasil colaborará para o aumento da instabilidade no Oriente Médio e poderá se tornar alvo de atos hostis. Não é pouco. Chamem o Itamaraty.


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