Preconceito. Desigualdade. Democracia desafiada

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista
opiniao.pe@diariodepernambuco.com.br

Publicado em: 05/11/2018 03:00 Atualizado em: 05/11/2018 12:36

O Brasil dos 900 – 1.900,  começo do século 20 – era o mesmo, exatamente o mesmo de hoje – preconceituoso, desigual e uma democracia cheia de desafios. Para entender, basta ler o livro Lima Barreto – Triste Visionário, de Lilia Moritz Scwarcz, publicado pela Companhia das Letras, 

Até porque não é apenas uma biografia de Lima Barreto, o que seria bastante, mas uma nova visão histórico-político-sócio-antropológica deste país, uma nova interpretação deste exótico país, a partir da angústia, da dor e da miséria deste Brasil que amamos tanto. Isso mesmo, uma visão daqueles que foram martirizados ao longo dos anos.

Quase que escrevo, a visão dos derrotados pelo preconceito, pelas desigualdades, pela democracia sempre inacabada, o que  Isso representa uma reviravolta em nossos estudos sempre realizados a partir dos vencedores, dos triunfalistas, daqueles que sempre viram o povo a reboque do poder.

Agora mesmo vemos como as coisas se atropelam, se misturam e estarrecem numa eleição de um presidente cuja campanha repousou numa ameaça repetida muitas vezes: o brasileiro deve escolher entre os direitos trabalhistas e o desemprego. Insuportável. Isto significa, vá pra casa e não reclame.

Através do grande escritor podemos observar que os negros, por exemplo, tiveram que suportar todo tipo de insulto e de humilhação, enquanto os poderosos faziam farra na Europa, fingindo uma vida com externas influências cheias de grandeza. Uma grandeza que nunca tiveram. Vestiam fantasias para um carnaval que nunca acaba.

E aí entra também a fantasia da literatura. Bonita, arrumada, criativa, mas sem sangue, sem cheiro do povo. Feito se dizia antigamente.

A leitura deste livro de Lilla nos adverte para este Brasil que esquecemos e que continuamos a esquecer. Até porque essa foi uma eleição em que o preconceito se destacou e, mais do que isso, onde  a Igreja Católica preferiu olhar o panorama da ponte. Aliás, os padres caíram na farra do cantar e do dançar, esquecendo o rebanho. Pode parecer uma missão, mas é, com certeza, um equívoco.


Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.