Precisamos da política

Alfredo M. Gomes
Professor e Diretor do Centro de Educação da UFPE

Publicado em: 01/11/2018 09:00 Atualizado em:

O que nos (i)mobiliza é a assombrosa e temporariamente bem-sucedida força que prolonga o preconceito contra a política. Já faz alguns anos que essa forma de pensar tem sido colocada em circulação, mas durante o corrente ano eleitoral a coisa ganhou contornos jamais vistos pós transição conservadora democrática. Viralizou. Não apenas viralizou: tem destituído muitos de nós da capacidade de julgamento e formulação crítica.

Sem juízo baseado em acontecimentos históricos e/ou evidências sociológicas, econômicas e culturais em âmbito nacional ou internacional, estamos profundamente limitados na construção crítica necessária requerida pelo momento que agora vivenciamos.

Isso não significa que devemos ser formados em história, sociologia, economia, antropologia etc. Significa, na prática, que devemos procurar os critérios de julgamento na pluralidade humana, afinal, a política, segundo Hannah Arendt, tem base, sentido e tarefa. “A política se baseia no fato da pluralidade humana”, seu significado é a liberdade, e “em todas as épocas e lugares é tarefa da política esclarecer e dissipar os preconceitos” e “salvaguardar a vida em seu sentido mais amplo”.

Nós que defendemos a democracia e a liberdade trabalhamos ou devemos trabalhar arduamente contra o preconceito, base da mistificação, da manipulação e da violência, que tem dominado o processo eleitoral para presidente no Brasil. Dessa forma, a nossa conjuntura atual é regressiva: estamos hoje onde jamais imaginaríamos estar: lutando como antes e de novo para defender a democracia e a liberdade contra a escancarada defesa de práticas neofascistas e autoritárias, cuja uma das bases é o preconceito contra a política.

Houve e haverá sempre preconceito contra a política, mas ele jamais poderá alcançar nível que possa destruir a política em nossa sociedade. A negação da política ocorre por meio da violência, física e/ou simbólica; ocorre por meio de práticas autoritárias; ocorre pela estruturação social intencional de práticas neofascistas; ocorre por meio do deslocamento de sentido em relação a fato histórico amplamente documentado e interpretado na sociedade; por fim, a negação da política pode ocorrer pela concretização da ameaça ao Estado Democrático de Direito.

Portanto, precisamos da política. A existência da política é condição indispensável à existência de instituições democráticas; a política ganha seu sentido último na liberdade.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.