Editorial Alvo errado

Publicado em: 30/10/2018 03:00 Atualizado em: 30/10/2018 08:35

Jair Bolsonaro anunciou qual será o primeiro ato que assinará ao assumir a Presidência da República em 1º de janeiro de 2019 — enviar ao Congresso Nacional projeto que fará mudanças na lei para dar às pessoas o direito de ter uma arma. Não significa, segundo ele, o direito de andar armadas, mas o de facilitar a posse para legítima defesa.

Trata-se de bandeira que o então candidato defendeu ao longo da campanha. É natural trazê-la ao debate durante o mandato. A questão que se levanta não é, pois, da legitimidade, mas da oportunidade. Sabe-se que o ungido das urnas — independentemente de partido político ou de plataforma eleitoral — goza de período de lua de mel com a sociedade.

Os cidadãos o agraciam com certa tolerância antes do tsunami de cobranças. Mas a trégua tem vida breve. Tradicionalmente são 100 dias. Nos tempos bicudos que o Brasil atravessa, especialistas preveem armistício mais curto. O fato deve acender o sinal de alerta para que o mandatário empregue o capital político ainda intocado em iniciativas inadiáveis que demandam apoio parlamentar substantivo.

Em português claro: na largada, Bolsonaro precisa mirar prioridades reais, abrangentes, aptas a tirar o país do atoleiro em que se encontra. Há que focar as finanças federais (sem ignorar as das unidades da Federação). A meta de deficit fiscal para 2019 é de R$ 139 bilhões. A reforma da Previdência se impõe para evitar que o buraco se aprofunde e fique fora de controle.

A mudança do sistema de aposentadoria encontra resistências, que terão menos força se enfrentadas na largada do mandato. Ninguém duvida da impopularidade que acarretam iniciativas como a de cortar privilégios (até de aliados) e de alongar o tempo de trabalho e de contribuição do trabalhador. Mas não há como procrastiná-las.

Sem elas, o país se privará de trilhar o caminho do desenvolvimento. É grave. Quase 13 milhões de brasileiros buscam, mas não encontram trabalho. Nada menos de 4,8 milhões, cansados da procura inútil, desistiram de procurar ocupação. Pressionados pela necessidade, milhões se sujeitam a realizar tarefas que exigem muito menos do que podem oferecer e, em consequência, recebem contrapartida menor. Empobrecem.

Não há necessidade de doutorados em universidades de ponta para entender que, sem crescimento, o governo ficará com as mãos atadas. O cumprimento das promessas de campanha se adiará para as calendas gregas. É preocupante. A redução do tempo da lua de mel para o eleito prova que o cidadão tem pressa. Frustrá-lo é má aposta.

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