PT, a banalização do mal

Luiz Otavio Cavalcanti
Ex-secretário de Planejamento e Urbanismo da Prefeitura do Recife, ex-secretário da Fazenda de Pernambuco e ex-secretário de Planejamento de Pernambuco.

Publicado em: 26/10/2018 03:00 Atualizado em: 26/10/2018 08:45

Hannah Arendt, em Eichmann em Jerusalém: relato sobre banalidade do mal, trata da maldade burocrática. A autora judia argui a responsabilidade do oficial nazista no ofício do holocausto. Segundo ela, Eichmann produziu um mal decorrente de sua incapacidade. Incapacidade de parar e, distinguindo entre o certo e o errado, corrigir sua ação.

Para Arendt, há, na ação de Eichmann, mediocridade. No sentido de ele não criar disposição para rever a prática do genocídio. Haveria, também, responsabilidade em eventual decisão pessoal para confrontar o processo criminoso.

A questão vivida por Eichmann se passou na esfera administrativa e penal. Mas, como considerar a mentira no exercício da política, vivida no âmbito do espaço público ?

De acordo com Hannah Arendt, política autêntica é o agir conjunto. Agir conjunto e livre. Pelo qual se concretiza a dignidade da vida pública. Nesse contexto, o poder é visto como ação criativa. E não como constrangimento. É produzida como adesão. E não como mercancia. Política, portanto, resulta de criatividade do agir plural por homens livres.

Ora, o PT insiste em gerar uma narrativa contrafactual. Que busca ocultar evidências de esquema institucionalizado de corrupção. Esquema não só descoberto. Mas investigado pela Polícia Federal, com julgamento de dezenas de filiados pela Justiça. E muitos sentenciados cumprindo pena.

A narrativa petista de negar a corrupção do mensalão e do petrolão configura um tipo de banalização política do mal. Porque pretende, sob tentativa irrisória de mentir, desmentir fatos. Conhecidos e comprovados.

Tal comportamento do partido traz três prejuízos: para o processo democrático, para o funcionamento da Justiça e para o próprio PT.

Prejuízo para o processo democrático porque o discurso do partido distorce a realidade. E, ao fazê-lo, atinge a credibilidade da democracia. É como se os recursos do regime democrático não fossem suficientes para bloquear a ação criminosa de corruptos e corruptores. A democracia é, ao mesmo tempo, forte e frágil. A democracia é forte como conceito, como aspiração, como conquista. E a democracia é frágil como prática, como experiência dos homens. É como se ela atraísse, na sua operação, a fragilidade de caráter de homens ineptos. E inaptos.

Prejuízo para o funcionamento da Justiça porque o discurso do partido tenta desconstruir a noção do justo. Filiados ao PT têm continuadamente buscado desmerecer a regularidade do processo judicial na Lava-Jato. Ora, essas tentativas atingem a integridade do Estado de Direito. Pois este tem na Lei uma de suas bases de sustentação. E a Lava-Jato investiga e sentencia os que infringem a lei.

Há claro propósito de politizar os processos judiciais da Lava-Jato. Esse intuito atrasa a Justiça. E torna a política menor.

Prejuízo para o próprio PT porque não há mais como ocultar o que ocorreu na Petrobras. Não há mais como sonegar o conluio com as empreiteiras. Que o digam gestores de empresas envolvidas, marqueteiros e ex-ministros. O custo político e eleitoral do PT pode ser avaliado nesta eleição de 2018. Acentuado antipetismo fez com que o candidato presidencial trocasse o vermelho pelo verde -amarelo. E deixasse de entronizar a figura do ex-presidente. Mesmo assim, o partido é o que mais tem admiradores no país: mais de 20% dos pesquisados.

Ou seja, o PT tem capital político diferenciado. E a política brasileira precisa de um partido social- democrata. Principalmente após o naufrágio moral e político do PSDB.

É hora de os petistas fazerem uma revisão de conduta. Pedirem desculpas ao país. Isto é o mínimo que o partido deve aos filiados, aos eleitores e à nação. E, por oportuno, aproveitarem para ler Hannah Arendt. E evitar a banalização do mal na política.    

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.