Editorial Vacina: avanço civilizatório

Publicado em: 25/10/2018 03:00 Atualizado em: 25/10/2018 10:23

Épreocupante o fato de que os brasileiros negligenciam a vacinação dos filhos. Desde 2016, registra-se queda na cobertura vacinal de crianças menores de dois anos. Segundo o Ministério da Saúde, entre janeiro e agosto, nenhuma das nove principais vacinas bateu a meta estabelecida — imunizar 95% do público-alvo. O percentual alcançado oscila entre 50% e 70%. É espada de Dâmocles sobre cabeças individuais e coletivas.

As autoridades atribuem o desleixo a duas causas. Uma: fake news alarmantes espalhadas pelas redes sociais. Segundo elas, vacinas seriam responsáveis pelo autismo e outras enfermidades. A outra: a população apagou da memória as imagens de pessoas acometidas por coqueluche, catapora, sarampo. Confirmar-se-ia, então, o dito de que o que os olhos não veem o coração não sente.

Trata-se de comportamento irresponsável que tem consequências. De um lado, ao evitar que o infante indefeso fique protegido contra determinada doença, os pais lhe comprometem a saúde (e até a vida). De outro, impedem que a enfermidade continue a se propagar pela população. Em bom português: apunhalam o individual e o coletivo. Põem a perder décadas de esforço governamental de proteger os brasileiros de doenças evitáveis.

O Brasil, vale lembrar, é citado como modelo pela Organização Mundial de Saúde. As campanhas de vacinação exigiram esforço hercúleo. Para cobrir o território nacional e cumprir o calendário, enfrentaram selvas, secas, tempestades. Tiveram êxito. Deixaram relegada para as páginas da história a revolta da vacina, protagonizada pela população do Rio de Janeiro que, no início do século passado, se rebelou contra a mobilização de Oswaldo Cruz para reduzir as mazelas do Rio de Janeiro. O médico quis resolver a tragédia da varíola com a Lei da Vacina Obrigatória.

Tal fato seria inaceitável hoje. A sociedade evoluiu e se educou. O calendário de vacinação tornou-se rotina. Graças ao salto civilizatório, o país conseguiu erradicar males que antes assombravam a infância. O retrocesso devolverá o Brasil ao século 19. Há que reverter o processo. Acerta, pois, o Ministério da Saúde ao deflagrar nova campanha de adesão para evitar a marcha rumo à barbárie. O reforço na equipe de agentes de imunização deve merecer atenção especial.

O mundo registrou avanços irreversíveis. Comportamentos aceitos com a naturalidade do suceder dos dias e das noites tornaram-se inadmissíveis pelas consciências civilizadas do globo. O tempo se encarregou de abominar o que antes era tido como natural. É o caso da escravidão, das jornadas desumanas, do trabalho infantil, da condenação de hereges à fogueira, do feminicídio em defesa da honra. Entre as tantas conquistas, está a vacinação. Imunizar contra determinadas doenças é prática que vem do século 18.

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