Onde está você, amado Francisco?

Aurélio Molina
Ph.D., professor da UPE e membro das Academias Pernambucanas de Ciências e de Medicina

Publicado em: 24/10/2018 03:00 Atualizado em:

Como o senhor bem compreende, nós, seres humanos, somos fracos e vulneráveis. E um competente programa de lavagem cerebral em massa, com ajuda estrangeira (diviti et impera), baseado no medo, ódio, preconceito, desinformação e na mentira sistemática, foi posto em prática, “sequestrando e escravizando” milhões de corações e mentes. Essas técnicas sempre funcionaram na história da humanidade. Mas nunca na escala, intensidade e velocidade que está ocorrendo por aqui, talvez reflexo das novas tecnologias de comunicação. E o senhor também sabe que o diabo tem muitas faces e atende por muitos nomes. Pois ele está aqui e agora, encarnado numa pessoa despreparada (sob qualquer métrica utilizada), pregando o oposto do que o nosso Senhor Jesus Cristo defendeu e vivenciou até as últimas consequências. Ao invés de amar o próximo como a ti mesmo, ele prega o ódio ao outro e ao diferente. Ao contrário do perdão (“não sete, mas sete vezes setenta”), ele defende a tortura. E idolatra até mesmo aquele que não só a realizou como as fez na presença dos filhos dos torturados/as. Indo de encontro ao quinto mandamento ele defende a morte de milhares e apoia grupos de extermínio. Ao invés de não tomar o Santo Nome em vão ele o vulgariza e o utiliza até a exaustão. Em relação ao oitavo mandamento outra coisa não faz a não ser levantar falso testemunho, esquecendo que não é o que entra pela boca que causa mal e sim o que sai por ela. Ao contrário do Mestre dos Mestres, que foi um exemplo de tolerância, não se escusando sentar à mesa com publicanos e “pecadores”, de pedir água a uma samaritana (inimigos/as históricos/as dos judeus) ou não julgando a mulher adúltera (“quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”), ele é a intolerância em forma de gente, condenando e agredindo a dignidade de todos que não pensam como ele. Sua família não é a humanidade, mas apenas seus fanáticos seguidores e adoradores. Ele não “alcança” Mateus 12 e Marcos 3 (“aqui estão a minha mãe e meus irmãos”) ou Paulo, em Gálatas, falando sobre a fraternidade e unidade da grande família universal de Jesus (“não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea, porque todos vós sois um em Cristo”). Seu indiscriminado preconceito e racismo atingem até mesmo a nossa mestiçagem racial e cultural, de que somos tão orgulhosos. Ao sofrido, mas altivo, povo nordestino ele mandou comer capim. Diante de uma das mais vergonhosas fraquezas humanas, isto é, a bestialidade, ele tripudia, ri e se deleita por ter tido relações sexuais com animais, no caso específico, galinhas. Nesses dias tão nebulosos não sai de minha mente as palavras do pastor luterano Martin Niemoller, alemão e prisioneiro nos campos de concentração nazistas por 7 anos: “Primeiro, os nazistas vieram buscar os comunistas. Mas como eu não era comunista, me calei. Depois vieram buscar os judeus. Mas como eu não era judeu, não protestei. Então, vieram buscar os sindicalistas. Mas como eu não era sindicalista, me calei. Então, eles vieram buscar os católicos. E como eu era protestante, me calei. Então, quando vieram me buscar, já não restava ninguém para protestar”. Em nosso atual contexto os “alvos” são os comunistas, petistas, “esquerdopatas” (todo/a cidadão/ã que não concorda com sua visão de mundo), gays, negros, índios, jornalistas, artistas, mulheres, principalmente as feministas e, ultimamente, os nordestinos. Já, já, serão os católicos. Querido papa Francisco, socorrei! Por favor, rápido! A barbárie bate à porta. 

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