Força e enfrentamento em Cida Pedrosa

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista
raimundocarrero@gmail.com

Publicado em: 22/10/2018 03:00 Atualizado em: 22/10/2018 09:34

Esta é uma poeta de quem se pode dizer: enfrenta as dores do mundo sem recuar. Sem reservas e sem pudor. Vai direto ao assunto com a habilidade e a coragem dos que não conciliam na hora da luta, porque Cida Pedrosa está sempre em luta no momento em que se debruça sobre o poema para revelá-lo.

Cumpre bem, e muito bem, aliás, aquilo que Lima Barreto exigia dos escritores: Sem escoras ou para-balas. Isto é, sem frases encaracoladas ou enfeites, firmando-se no ponto decisivo. Basta ler cada uma das suas palavras ou dos seus versos que, muitas vezes, nem são versos, mas estocadas diretas no vente.

Basta, por exemplo, ler estas palavras de Marcelino Freire,  nosso Marcelino Freire, proclamando: “Cida, cidadã da vida. Enfrenta de faca na mão a solidão das espécies. Uma alma que dá guarida a todos os versos. Feitos de pedra. De carne e de fogo. Não importa.” Assim está escrito na contracapa do livro, exemplarmente editado pelos artesãos da Companhia Editora de Pernambuco, tão perfeccionistas quanto combatentes, à frente Ricardo Leitão e Wellington de Mello.

Mas, afinal, o que diz esta poesia? “Gosto quando Milena fala dos homens que comeu durante a noite./  é a única voz soante nesta cantina de repartição./ onde todos contam/ do filho drogado do preço do pão/ do sapato carmim exposto na vitrine/ da rua sicrano/ de tal do bairro de casa amarela/  onde você pode comprar e começar a pagar em abri/ sem a voz de Milena o café desce amargo.

É preciso destacar, sobretudo, que Cida está aí também para se solidarizar com todas as mulheres, em qualquer situação. Por isso, não se pode dizer que ela é apenas feminista, é sobretudo feminina porque enfrenta os direitos e desejos da mulher sem esquecer nenhum de suas facetas, nenhum  dos seus projetos.

Gris reúne, por assim dizer, uma antologia da obra da poeta, em combate desde os ásperos tempos do Movimento dos Escritores Independentes de Pernambuco, ao lado de, entre outros, Francisco Espinhara, a quem homenageia com a epígrafe.

Eis Cida Pedrosa, esta poeta, esta mulher, que nos enriquece com seus versos e suas palavras belas, firmes e vigorosas.

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