Cooperativismo: utopia ou solução?

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 20/10/2018 03:00 Atualizado em: 20/10/2018 06:37

O Dia Internacional das Cooperativas de Crédito foi comemorado nessa semana, no dia 18/10. Esse ramo do cooperativismo brasileiro tem apresentado números impressionantes, sendo o mais importante entre os 13 de cooperativas no Brasil. Ele possui cerca de 6,3 milhões de cooperados. O cooperativismo agropecuário é o segundo mais importante no país, tendo cerca de 1 milhão de filiados. As cooperativas de saúde envolvem cerca de 250 mil cooperados e também compõem um segmento importante no Brasil. Tanto as cooperativas de crédito como as de saúde muitas vezes são as únicas fontes desses serviços em vários municípios brasileiros. As agropecuárias muitas vezes representam a principal fonte de assistência técnica para os cooperados, além, é claro, de prestar vários outros serviços, como comercialização de insumos e produtos finais. Em todos os sistemas de cooperativas estima-se que há cerca de 10 milhões de associados no país. Isso representaria cerca de 5% da população brasileira. No entanto, esses números estão obviamente inflados, pois muitos dos associados são membros de mais de um sistema de cooperativas e calcula-se geralmente somando-se todos os associados a cooperativas, sem deduzir o número de indivíduos contados mais de uma vez. É comum, por exemplo, indivíduos serem associados a cooperativas de crédito e agropecuária ao mesmo tempo. Apesar de com números um pouco inflados, o cooperativismo é uma realidade no país hoje que afeta a vida de percentual não desprezível da população.

As cooperativas no Brasil podem evoluir muito ainda. Somente as de crédito na Irlanda possuem membros que representam mais e 74% da população economicamente ativa. Nos E.U.A. esse percentual atinge mais de 52% e mais de 41% no Canadá. Se de forma grosseira, mas com aproximação razoável, considerarmos 50% da população como economicamente ativa, vê-se que nos E.U.A., por exemplo, a proporção da população cooperada atinge mais de 25%. Ou seja, para atingir patamares próximos aos desses países, a penetração das cooperativas no Brasil precisa se multiplicar por mais de duas vezes, já que estaria atingindo cerca de 10% da PEA, segundo estimativa grosseira apresentada acima.

As vantagens das cooperativas é que elas reduzem custos dos serviços que prestam para os associados. Além disso, elas podem ainda atuar de forma a proporcionar acesso a uma série de outros serviços para as comunidades em que elas estão inseridas, como educação e socialização, criando canal de desenvolvimento social não governamental. As principais dificuldades para a formação e manutenção delas são: (i) a possibilidade de desvio de conduta dos seus líderes; (ii) as custosas decisões democráticas; e (iii) conflitos de interesses entre seus membros, às vezes de difícil superação. Pela natureza desses problemas, a personalidade das principais lideranças pode ser um determinante importante de seus sucessos, além da propensão cultural a cooperar. Desenvolvimentos recentes nas tecnologias de controle e auditoria, assim como de gestão por resultados, gerados pelas grandes corporações empresariais, brasileiras e multinacionais, quando aplicados às cooperativas, têm reduzido esses tipos de problemas. Além disso, a profissionalização de suas gestões, com a absorção de executivos muitas vezes testados e aprovados nos mercados corporativos reduz a dependência dos líderes para o sucesso das cooperativas. Esses fatos poderão impulsionar muito as cooperativas nos próximos anos. Ou seja, a expansão delas cada vez mais se torna uma realidade potencial e uma boa opção para os cidadãos.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.