Danem-se os fatos!

Igor Lôbo
Publicitário, especialista em marketing digital

Publicado em: 18/10/2018 03:00 Atualizado em: 18/10/2018 08:31

A fatura das notícias gratuitas chegou alta demais. A desinformação dominou o debate eleitoral. Propostas de governo foram relegadas ao 4º plano.  Retumbantemente irrelevantes.

Bolsonaro implementará uma ditadura, Haddad será o Maduro Brasileiro. Os insensatos vermelhos superlativam declarações de Mourão e elevam crítica ao 13º à concreta e inicial ação de governo. A chapa verde-oliva, por sua vez, ressuscita a ameaça comunista e inventa planos de homossexualização de crianças. Não há espaço para diálogo com homossexualizadores de crianças. Como dar ouvidos aos que querem relançar às torturas? Não há meio-termo. Não há possibilidade de consenso. E o fato de termos um 2º turno com ambos rejeitados pela maior parcela da população é, em si, uma grande derrota. Fruto do terrorismo eleitoral que leva pavor a essa horda de histéricos que infernizam o debate político.

Pode se dizer tudo sobre Lula (e tudo se diz) mas não reconhecê-lo como grande estrategista político é duelar contra a realidade. A ação deliberada de decapitar as candidaturas de Márcio Lacerda e Marília Arraes não para trazer para si o PSB, mas para tirá-lo de Ciro Gomes, demonstram uma postura  hegemonista, de um pragmatismo brutal. Deixa claro que, para certos petistas o PT está acima do país. Manteve a liderança da esquerda, formou a maior bancada da Câmara e assegurou um lugar para seu indicado no 2º turno. A votação fez o partido ressurgir da quase aniquilação de 2016. O impeachment reposicionou o PT como oposição e lhe deu sobrevida na liderança do ``reino vermelho´´, como bem definiu  Antonio Lavareda. Do outro lado, a votação do PSL foi consagradora. A aposta no discurso apolítico e moralista seduziu o eleitor que identifica no capitão reformado ‘aquele desejo de ir lá em Brasília esganar os políticos safados’. Somado isso a sua estrondosa rede de compartilhamentos em WhatsApp, e seus gigantescos canais nas redes sociais (anabolizados por robôs), se tornou o maior cabo eleitoral da eleição. A mídia tradicional e a Lava-Jato, em tabela, embaralharam ainda mais a cabeça do eleitor. Doações por dentro 100% legais, à época, demonizadas e políticos de todos os partidos e posturas se viram jogados juntos no mesmo caldeirão.  

De dentro da Câmara, com mais de  20 anos de pífia atuação, o Messias conseguiu se vender como o antiestablishment. A aposta na antipolítica, na agenda moralizadora, foi um tiro certeiro. Pois provoca muito mais comoção que discussões acerca de complexas agendas políticas inacessíveis a maior parte do eleitorado. Gera um engajamento que se prolifera como praga nos novos canais de comunicação. Os Bolsonaros são fãs de Donald Trump. Um deles, inclusive esteve com um dos estrategistas do presidente americano, Steve Bannon, ideólogo da nova direita populista que toma corpo mundo à fora. Essa aproximação, no mínimo, foi muito inspiradora. O grupo se tornou imbatível na desinformação.

As falas de generais ameaçando intervir antes do julgamento de Lula,  as manifestações de que um resultado contrário não será aceito, o incansável apoio ao golpe civil-militar dos anos 60, e as posições conflitantes com o regime democrático não devem ser testadas no segundo turno. O presidente do Supremo se apressou a nomear assessores militares e anda classificando o golpe de 64 como movimento de 64. Toffoli parece já ter antecipado o veredito dos eleitores. Para finalizar, me arrisco também em um ato de futurologia: Haddad não se elege. Se se eleger, não toma posse. Se tomar posse, não governa.

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