Editorial Olhar para o mundo real

Publicado em: 16/10/2018 03:00 Atualizado em: 16/10/2018 08:49

Acompanhar a propaganda eleitoral ensina lições ao brasileiro atento. Ele pode fazer comparações entre o mundo real e o mundo apresentado pelos candidatos que disputam assento no Palácio do Planalto. O cidadão vive no chão da fábrica: acorda cedo para pegar o ônibus que o levará ao trabalho, entrega o filho à escola na expectativa de que aprenda a lição, recorre ao hospital para tratar enfermidades urgentes, sai de casa na torcida para não ser surpreendido por assalto ou bala perdida no caminho, conta os dias para que o mês não seja maior que o salário.

Os postulantes, de olho no poder, se apresentam à moda antiga. Transformados em super-homens, acima da Constituição, das leis e dos poderes constituídos, conjugam o verbo prometer. Emprego, renda, segurança, educação, saúde, lazer estarão ao alcance de todos — tudo num toque de mágica como se os governantes, em 500 anos de história, tivessem feito a opção deliberada por investir em atraso, pobreza e subdesenvolvimento.

Um olhar crítico voltado para a realidade que espera o eleito — seja de que partido for — mostra cenário dramático. Nele, sobressai o problema dos recursos. A dívida pública abocanha nada menos que 80% do Produto Interno Bruto (PIB). Embora não sejam assertivos sobre a Previdência, os dois finalistas têm de admitir que aposentadorias e pensões são os vilões do deficit primário (excetuados os juros). O que farão? Que planos executarão? Abrir o jogo pode roubar votos. Mas permite decisão consciente do eleitor.

Outros desafios porão em xeque a capacidade de articulação do novo mandatário. Com um Congresso fragmentado e o orçamento no vermelho, ele terá de negociar com o parlamento a regulamentação da Lei Kandir. O prazo se esgota em 31 de dezembro de 2018. Aprovado o projeto, os cofres da União sofrerão pesada pancada: de R$ 3,8 bilhões anuais passarão a desembolsar R$ 39 bilhões.

Também em 31 de dezembro termina o prazo do subsídio de R$ 9,5 bilhões ao diesel, negociado durante a greve dos caminhoneiros. Será renovado? Caso positivo, agrava-se o risco fiscal. Não só. Outras espadas de Dâmocles ameaçam o novo ocupante do Planalto. Administrá-las por certo custarão capital político. Há que arcar com lucros e perdas. Respostas técnicas, sem apelos a populismos e soluções milagreiras, sinalizarão o rumo que o país tomará.

A 12 dias do segundo turno, passou da hora de os candidatos apresentarem propostas claras. A varrição promovida pelas urnas nos até hoje donos do poder demonstraram que o Brasil real está atento. Recusa a velha fórmula de esbanjar sorrisos, carregar criancinhas no colo, apresentar soluções simplistas, prometer serviços públicos que rivalizam com Suécia, Dinamarca e Noruega. Impõe-se olhar para a nação que convive com desemprego recorde, com educação defasada, com saúde enferma, com insegurança que mata. Quais os projetos para mudar esse cenário? Com a palavra, Bolsonaro e Haddad.

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