Editorial Um basta ao discurso do ódio

Publicado em: 15/10/2018 03:00 Atualizado em: 15/10/2018 09:15

Atrese dias do segundo turno das eleições presidenciais, o Brasil assiste, atônito, ao aumento da violência política, fruto da intolerância que só faz recrudescer. A radicalização entre direita e esquerda incentivou o discurso do ódio, do qual ninguém escapa, mas as principais vítimas são as minorias, sobretudo gays, lésbicas e travestis, que passaram a ser vítimas constantes de hostilidade e perseguições.

Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que, desde o último domingo, quando as urnas decidiram por levar Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) para a etapa final da disputa pelo Palácio do Planalto, 2,7 milhões de mensagens contendo ameaças e xingamentos circularam apenas por uma rede social. Em todo o primeiro turno, foram registradas 1,1 milhão de mensagens com conteúdos semelhantes.

O discurso do ódio se tornou tão presente, que a Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu nota ressaltando “profunda preocupação” com atos de violência contra grupos LGBTs, mulheres, afrodescendentes e pessoas com posição políticas divergentes. No entender da ONU, esses ataques devem ser investigados rapidamente, de forma eficaz e imparcial, com punição exemplar para os culpados. Se o país não combater esses crimes, a violência tende a explodir.

Também a Procuradoria-Geral da República se manifestou. Por meio de uma instrução, orientou os procuradores regionais das 27 unidades da Federação a combateram situações de ódio e violência que se espalham pelo país devido à polarização entre Bolsonaro e Haddad. A instrução veio depois do assassinato, a facadas, do mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Katendê, de 63 anos. Ele foi morto dentro de um bar ao se envolver em uma discussão na qual defendia o candidato petista. O autor das facadas tinha chegado ao local gritando o nome do presidenciável do PSL.

É inacreditável que uma democracia consolidada, como a brasileira, que já passou por vários testes, esteja enfrentando atos que devem ser repudiados com toda a veemência. Neste país, todas as pessoas, independentemente de cor, sexo ou ideologia, têm o direito de se manifestarem livremente. Não podem ser perseguidas, atacadas, mortas. Os tempos das trevas, da censura, da ditadura, ficaram para trás. Portanto, todos merecem respeito.

Felizmente, depois de um período de omissão, Haddad e Bolsonaro passaram a pregar a paz e o respeito às opiniões divergentes. Mas ainda estão tímidos nos discursos e nas ações. Se não combaterem os crimes de ódio com a força que o momento exige, darão respaldo para aqueles que se sentem no direito de fazerem prevalecer seus pontos de vistas. O país precisa retomar a tranquilidade. O processo eleitoral é fundamental para que possam definir o futuro de queremos. Não pode ser motivo para que o contraditório, que tão bem faz ao debate, seja anulado. Vamos dar um basta à violência. Respeito é bom e todo mundo gosta.

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