Santos novos no Santoral e o momento brasileiro

Antônio Fernando Saburido, arcebispo de Olinda e Recife

Publicado em: 13/10/2018 03:00 Atualizado em: 14/10/2018 14:55

Neste domingo, 14 de outubro, em Roma, o papa Francisco canonizará em uma mesma cerimônia o santo padre Paulo VI e Monsenhor Oscar Romero, arcebispo de San Salvador, assassinado no dia 24 de março de 1980, quando celebrava a eucaristia em uma capela de hospital. Esses dois santos são novos porque estão sendo canonizados agora, mas também porque representam um estilo novo de santidade, reconhecido oficialmente pela Igreja. Paulo VI foi o papa que garantiu a continuidade do Concílio Vaticano II, depois da morte de João XXIII e se tornou responsável pela aplicação do Concílio na grande obra de renovação da Igreja iniciada no Concílio. Portanto, Paulo VI é o santo da renovação conciliar. Sua primeira encíclica (Ecclesiam Suam, 1964), dizia que o diálogo é sempre divino porque foi Deus que o começou ao se revelar à humanidade (E. C. 41).  Em outra encíclica, ensinou que a atividade política é autêntica expressão da caridade, “uma maneira exigente de viver o compromisso cristão, ao serviço dos outros” (Octogesima Adveniens, 26).

Nós todos, cristãos, somos cidadãos do reino de Deus que não é desse mundo, mas deve se manifestar nele. Por isso, pedimos na oração do Pai Nosso, não que nos tire do mundo e nos leve ao reino e sim que “venha a nós o vosso Reino”. Assim, para que essa presença do reino possa se manifestar, somos chamados a participar, de alguma forma, na vida pública. Nesses dias, estamos exercitando o dever de cidadãos, através do voto consciente e responsável. Atualmente, o Brasil vive um momento de fortes tensões e de grande polaridade de opiniões e debates. A CNBB, a CRB e outras instituições católicas têm repetido: a Igreja por si mesma não é partidária. No entanto, isso não significa ser neutra ou omissa diante da nossa responsabilidade com o momento atual. Neste ano, no Dia Mundial das Comunicações, o papa Francisco nos advertia contra o perigo do que, hoje, se chama Fake News, notícias falsas ou tendenciosas, que criam uma onda de intolerância e são capazes de transformar a mentira e a calúnia em algo que todos consideram verdade. Assim, se mantém a verdade aprisionada nos cárceres dos interesses dos senhores desse mundo.

Na mesma cerimônia em que canoniza o beato Paulo VI, o papa Francisco proclamará santo a Dom Oscar Romero. Ele não foi mártir de um governo ateu e antirreligioso que, ao assassinar o arcebispo, quisesse destruir a fé. Como muitos padres, religiosos/as e fieis leigos, entre milhares de outras pessoas vítimas da repressão, Dom Romero foi vítima de uma ditadura militar, como outras na América Latina, implantada em nome da civilização dita cristã.

Que os novos santos do Santoral da Igreja intercedam por nossas Igrejas no Brasil e deem a todos nós, clero e fieis leigos, o dom do discernimento da vontade de Deus nesse momento decisivo das eleições.

A canonização de Dom Romero nos recorda a palavra de Jesus: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas quem põe em prática a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt 7, 21).

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