Editorial Elas são maioria

Publicado em: 12/10/2018 03:00 Atualizado em: 12/10/2018 20:22

Duzentos e oito milhões e quatrocentos mil habitantes. Essa era a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a população brasileira em 1º de julho deste ano, em decorrência de uma taxa de crescimento de 0,82% entre 2017 e 2018. As mulheres são maioria no país e representam cerca de 51,5% do total, o equivalente a 104,2 milhões de pessoas. Os números explicam bem a força das questões relacionadas ao gênero nos discursos eleitorais, mas não na definição das políticas públicas.

No jogo político, o Poder Legislativo é uma espécie de simulacro da sociedade. É ali que devem estar os representantes dos diversos grupos sociais, correntes de pensamento e, sobretudo, demandas populares. As câmaras municipais, assembleias estaduais e o Congresso Nacional – com a Câmara dos Deputados e o Senado – são os ambientes onde os representantes eleitos dão voz ao cidadão, reivindicando direitos, negociando deveres e traçando novos paradigmas para a vida em sociedade. Ser representado nas casas legislativas significa a possibilidade de pleno exercício da cidadania, a garantia de participar indiretamente das principais discussões que regem a vida em sociedade.

O voto para o Legislativo é, essencialmente, a deposição da confiança do eleitor em quem o represente nessas discussões, uma espécie de aval para a luta, assinatura em branco ao pé de petições futuras. Por isso, mais uma vez, é desejável que o Legislativo seja uma espécie de cópia em miniatura da sociedade, a fim de que todos os cidadãos tenham seus direitos ali protegidos.

As eleições de 2018 trouxeram grande avanço na ocupação dos assentos legislativos por mulheres. Embora no Senado o número de representantes do sexo feminino tenha se mantido igual ao da legislatura anterior (sete), na Câmara dos Deputados elas saltaram de 51 para 77 vagas. Nas assembleias, as 119 deputadas estaduais da legislatura vigente darão lugar a uma composição também mais feminina, com 161 eleitas. Na Câmara, o crescimento foi de 51%. Nos estados, de 35%.

O avanço é histórico e reflete claramente o maior envolvimento das mulheres na política, numa clara reivindicação de protagonismo, sobretudo nas questões especificamente ligadas à igualdade entre os gêneros. A proporção de mulheres na vida pública, no entanto, ainda está longe de corresponder ao retrato da sociedade. Elas são 51,5% da população e, mesmo com o recente avanço, serão apenas 15% da Câmara dos Deputados, 15,2% nas assembleias estaduais e 12% no Senado.

A disparidade, além de mostrar que há muito a se caminhar rumo à plena representatividade, é um apelo numérico aos legisladores do gênero masculino pelo apoio às causas que envolvam as mulheres das comunidades que os elegeram. Sem esse apoio, o sucesso de seus mandatos estará comprometido, visto que não contemplará a pluralidade de seus representados, estendendo por mais quatro anos o sabor amargo de “mais do mesmo” que alimenta a taxa de renovação a cada pleito.

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