Vamos contrariar Ulysses Guimarães?

Bruno Baptista
Advogado e presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de Pernambuco - CAAPE

Publicado em: 11/10/2018 03:00 Atualizado em: 11/10/2018 08:28

Você lembra em quem votou para deputado na última eleição? Se não lembra, você é um dentre os 116 milhões de brasileiros, equivalentes a 79% do eleitorado, que não recorda em quem votou para deputado nas eleições realizadas em 2014. E nas eleições deste ano , atípicas em todos os sentidos, o elevado grau de polarização faz com que as atenções se voltem quase que exclusivamente para a eleição presidencial. Até parece que a panaceia, a solução para todos os males - e os guias eleitorais fazem questão de vender isso - é a eleição de salvadores da pátria. A história já provou que, independentemente da ideologia, os salvadores da pátria trazem, na realidade, mais problemas e ainda mais graves. No Brasil vivemos em um sistema denominado pelo cientista político Sérgio Abranches de “presidencialismo de coalizão”. Trata-se de um sistema presidencialista no qual a fragmentação do poder parlamentar em vários partidos faz com que o Executivo tenha que costurar o apoio do Congresso Nacional aos projetos do seu interesse no “varejo”, o que faz com que frequentemente se renda ao fisiologismo, ao “toma lá, dá cá” e aos interesses, nem sempre republicanos, de bancadas de interesses.  A crise da representação política é um fenômeno mundial, na qual a legitimidade dos partidos políticos como agentes de representação de interesses em corresponder efetivamente às demandas da sociedade é posta em xeque. O Congresso Nacional brasileiro, hipertrofiado em face dos Poderes Executivo e até mesmo do Judiciário, não discute os grandes temas importantes para o país e não funciona como a caixa de ressonância dos interesses da sociedade que representa.  Mas de quem é a responsabilidade? É evidente que é nossa, amigo(a) eleitor(a). Muitos sequer entendem como funciona o sistema das eleições proporcionais, no qual o seu voto pode servir para eleger um companheiro de chapa com ideias diametralmente opostas às do seu(sua) candidato(a). Outros, trocam o seu voto por um saco de cimento, cem reais, uma dentadura, um promessa de emprego ou até mesmo votam simplesmente por amizade, sem conhecer as propostas do candidato.   Um dos maiores parlamentares brasileiros do século 20, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, que resultou na Constituição de 1988, Ulysses Guimarães, certa vez afirmou: “Está achando ruim essa composição do Congresso? Então espera a próxima: será pior”. Nosso desafio sempre é contrariar a máxima do “Senhor Diretas” e  votar com consciência, analisando detidamente o histórico dos candidatos e as suas propostas. E depois de eleitos, acompanhar o mandato, fiscalizando-os, lembrando sempre que, enquanto não vem a aguardada reforma política, para os males da democracia, o remédio é sempre mais democracia.

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