Hora da verdade

Publicado em: 10/10/2018 03:00 Atualizado em:

Passada a comoção em relação aos resultados das urnas, que garantiram uma disputa em segundo turno entre Jair Bolsonaro, do PSL, e Fernando Haddad, do PT, chegou a hora de os dois candidatos apresentarem ao país suas reais propostas para a economia. Ao longo da campanha, nenhum dos dois foi capaz de mostrar aos eleitores seus planos de governo. Quando o fizeram, em vez de esclarecimento, o que se viu foi uma onda de desmentidos ou de negativas, a começar pelo capitão reformado do Exército, que, mesmo hospitalizado, foi obrigado a desautorizar seu vice, que havia prometido acabar, no caso de vitória da chapa do PSL, com o 13º salário e o adicional sobre férias dos trabalhadores.
Há temas importantíssimos que precisam entrar no debate, o mais urgente deles, o fiscal. O Brasil está com as contas públicas estraçalhadas, com rombo anual desde 2014. Antes mesmo de as urnas anunciarem o vencedor da disputa marcada para 28 de outubro, já se sabe que o setor público fechará 2019 com um buraco de pelo menos R$ 139 bilhões. Será o sexto ano seguido de finanças federais no vermelho. A situação é tão dramática que o governo não tem dinheiro suficiente para investir em saúde, em educação, em segurança e em infraestrutura. Há o risco, inclusive de faltar recursos para cobrir despesas básicas da máquina pública.
Tudo isso porque, ao longo dos últimos anos, nenhum governo foi capaz de fazer as reformas que o país tanto precisa para voltar a crescer. Os políticos, sobretudo os candidatos, preferem fugir desses temas espinhosos porque tiram votos, por serem impopulares. O problema é que o país chegou à beira do precipício. Ou se faz a reforma da Previdência Social logo ou, em pouco tempo, o Brasil estará de joelhos. Tanto Bolsonaro quanto Haddad dizem, vagamente, serem a favor da reforma do sistema de aposentadoria. Também sinalizam para mudanças no regime tributário, uma vez que a atual estrutura de impostos inibe o crescimento do setor privado, o grande empregador deste país.
É vital que, nas próximas três semanas, os dois candidatos escolhidos soberanamente pela população digam ao país como vão desatar esses nós. Também precisam explicar como lidarão com o teto que limita o aumento de gastos públicos. Criticado por políticos demagogos, o teto aprovado pelo Congresso durante o governo de Michel Temer se tornou uma importante âncora para o Banco Central manter a inflação sob controle e as taxas de juros no menor nível da história. Esse quadro inflacionário benigno, no entanto, pode ir para o espaço se qualquer loucura for feita na área fiscal. Já bastam os erros cometidos por Dilma Rousseff, cujas estripulias nas contas públicas levaram à desconfiança e à maior recessão da história.
Bolsonaro e Haddad devem convencer o eleitorado de que não oferecem riscos à estabilidade econômica, conquistada a duras penas. Já há gente demais sofrendo pelos equívocos de governos anteriores: 13 milhões de pessoas sem trabalho, quase 15 milhões de brasileiros que não ganham o suficiente para cobrir todas as suas despesas e 6,3 milhões que, desde 2014, engrossaram o exército de 23,3 milhões de miseráveis que não tem a menor ideia do que seja um futuro digno. Chegou a hora da verdade e não de falsas promessas. O Brasil tem muita pressa.

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