A terceira margem do rio

Luiz Otavio Cavalcanti
Ex-secretário de Planejamento e Urbanismo da Prefeitura do Recife, ex-secretário da Fazenda de Pernambuco e ex-secretário de Planejamento de Pernambuco.

Publicado em: 09/10/2018 03:00 Atualizado em: 09/10/2018 08:42

O Brasil acaba de receber um tsunami político. Os que queriam se opor à renovação não alcançaram seu objetivo. Os que queriam avançar, não atingiram sua meta. Como sempre, o país está no meio.

As urnas mostraram o seguinte:

1. Derrota incontornável do PSDB. Sem Alckmin no segundo turno presidencial. Sem Anastasia na liderança eleitoral em Minas. Sem Beto Richa, no Paraná. Sem Marconi Perilo, em Goiás. Sem espaço, no Rio de Janeiro.

2. Enfraquecimento do PMDB. Com as derrotas de Eunício Oliveira, no Ceará; de Edison Lobão e Roseana Sarney, no Maranhão. Junto com a derrota de Roseana, a de seu irmão Zequinha Sarney. E, juntando ambas, o declínio do até então invencível, José Sarney. É o fim de uma das oligarquias mais resistentes no Nordeste.

3. Fragilização do PT. Com as derrotas de Fernando Pimentel e Dilma Rousseff, em Minas. A não eleição de Eduardo Suplicy e Luis Marinho, em São Paulo. E os insucessos de Lindberg Farias e da senadora Vanessa Graziotin.

4. O Nordeste surge como reserva política do PT. O Nordeste foi a única região do país na qual Jair Bolsonaro perdeu. O PT elegeu quatro governadores no território nordestino: Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte e Piauí.    

5. A busca do centro político no segundo turno. Segundo turno é nova eleição. E, nessa busca de votos, os dois candidatos da segunda rodada têm que se distanciar dos discursos extremos. E se aproximar das teses centristas. Assim, Fernando Haddad e Jair Bolsonaro devem assumir claro compromisso com a democracia. Haddad deve denunciar a ausente democracia na Venezuela, por exemplo. E Bolsonaro há de assumir a defesa dos direitos humanos, por exemplo.

6. Esta eleição me lembra um conto clássico de Guimarães Rosa: A terceira margem do rio. É a história de um chefe de família que constrói um barco. E resolve ir morar no meio do rio. Como se ancorasse numa terceira margem. Sem explicações. Deixando perguntas no ar.

Para Haddad e Bolsonaro não há terceira margem do rio. Eles têm explicações a dar ao povo brasileiro.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.