Editorial 30 anos de liberdade

Publicado em: 05/10/2018 03:00 Atualizado em: 05/10/2018 08:42

Nesta sexta-feira, a dois dias das eleições gerais mais polarizadas da história do Brasil, a Constituição Federal comemora 30 anos de sua promulgação. Concebida no processo de redemocratização do país, depois do fim da ditadura militar, em 1985, a Constituição Cidadã ganhou esse apelido por ser fruto de uma retomada coletiva de direitos que haviam se perdido há muito. Por meio de seus representantes no Congresso Nacional, o povo brasileiro solidificou, na Carta Magna, as regras mantenedoras da liberdade, princípio que uniu diferentes setores da sociedade e da política. À época, 559 congressistas, capitaneados por Ulysses Guimarães, mantiveram debates suficientemente arrazoados para concluir um documento que garantiu a força das instituições e, sobretudo, a firme manutenção da democracia no país.

Trinta anos depois, parte dos valores mais nobres que conduziram a elaboração da Constituição Cidadã se perderam em uma espécie de banalização da liberdade. A tolerância, o debate produtivo e a busca de caminhos conjuntos para causas inicialmente divergentes deu lugar ao julgamento moral, aos ataques irresponsáveis, ao ódio generalizado. Dessa vez, em tempos de redes sociais, a sanha dos políticos e de suas campanhas arrasta multidões de seguidores que lhes repetem o tom exasperado e contamina grupos de toda sorte. O Brasil se esqueceu da política como arte de negociação para compatibilizar interesses. Acostumados à liberdade duramente conquistada no passado, os brasileiros levaram a política à seara dos conflitos, dos antagonismos, da rivalidade.

Tomadas pela intolerância e pelos extremismos, correntes políticas que pregam o ódio e propagam a polarização como saída para a crise desrespeitam as instituições e simulam um cenário de irreal fragilidade democrática. São correntes que encenam o caos para vender salvação àqueles que se esqueceram de que a Constituição Federal, verdadeira guardiã da democracia, paira acima das ondas inflamadas que hoje passam pela política brasileira.

Às vésperas das eleições gerais que elegerão um novo Congresso Nacional, é hora de exaltar o mais nobre produto daquela casa legislativa, a Carta Magna de 1988, e seu papel crucial na definição das regras que garantem a força das instituições e a soberania da democracia no Brasil. É momento de confiar nas regras que garantiram a retomada das liberdades no país para atravessar o pântano das batalhas subterrâneas impostas pela polarização irresponsável das campanhas. Somente confiando na Constituição e nas instituições brasileiras conseguiremos nos preocupar menos com a lama pegajosa da travessia e mais com o gigantesco desafio que nos aguarda do outro lado do atoleiro.

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