Editorial Na tevê, sem maquiagem

Publicado em: 04/10/2018 03:00 Atualizado em: 04/10/2018 08:22

Os norte-americanos John F. Kennedy (Democrata) e Richard Nixon (Republicano) estrearam o debate político televisionado, em 1960, na disputa pela Casa Branca. As primeiras imagens mostraram Kennedy bronzeado e bem-disposto contra Nixon pálido, em recuperação após um período de internação hospitalar. Difícil saber se a aparência, as propostas, ou ambas, levaram o democrata a conquistar, por uma diferença apertada, a Presidência dos Estados Unidos. Mas, a partir daí, a iniciativa se tornou inspiradora e adotada pelas nações democráticas nas disputas eleitorais.

Ao Brasil, o modelo chegou, timidamente, no início dos anos 1970, com experiências localizadas, sem expressão nacional. Com a redemocratização do país, aos poucos, o debate entre os candidatos a presidente da República e a governador se tornou evento midiático. A aliança entre tecnologia e democracia se transformou em instrumento capaz de ajudar os indecisos a definir o voto ou levar os convictos a mudar de opinião em relação ao candidato antes escolhido.

Hoje, é quase impossível discutir eleição sem mencionar a performance desse ou daquele candidato diante das câmeras. É o momento do olho no olho entre o aspirante e a massa de milhões de eleitores. Não tem tapinha nas costas, beijinhos em crianças, nem reverência carinhosa ao idoso, gestos comuns no corpo a corpo da campanha de rua. O palco é a arena onde os candidatos expõem e discutem ideologias e propostas para os temas que mais afligem a população, e são confrontados a cada questionamento dos entrevistadores e dos concorrentes. Quem responde não pode vacilar. Tem que ser assertivo e ter capacidade de convencer o telespectador de que o seu projeto é o melhor e mais exequível entre os apresentados pelos adversários.

Por meio da telinha, os eleitores são os responsáveis por decidir pelo projeto de nação que desejam. Têm condições de avaliar cada um dos concorrentes e pesar qual entre eles é o merecedor do seu voto, ou seja, ser o destinatário da procuração que dará para que as futuras políticas públicas não sejam frustrantes para a maioria da população. As emissoras de televisão cumpriram o papel social e político que as concessões lhes reservam: levar aos lares dos brasileiros de todos os quadrantes o debate e expor os presidenciáveis e os postulantes a governador ao crivo da opinião pública.

Ao longo desses 35 dias — termina hoje a propaganda eleitoral gratuita —, o duelo entre candidatos dominou a campanha eleitoral. A maioria não revelou o que pretende, mas prometeu além do que, provavelmente, não terá condições de cumprir em questões relevantes para a sociedade: saúde, educação, segurança, saneamento básico, desigualdades, miséria, emprego, reformas estruturais como a previdenciária e a tributária. Temas difíceis e inconvenientes àqueles que buscam se afirmar ante os eleitores. Cada cidadão, ao votar no domingo, deverá escolher com racionalidade quem deverá conduzir o país e o seu estado nos próximos quatro anos. Não é hora de empurrar o Brasil para a aventura.

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