Nada é tão ruim!!!

Gilberto Marques
Advogado criminalista

Publicado em: 29/09/2018 03:00 Atualizado em: 30/09/2018 22:00

Os ditos populares são cristalizados pela repetição. Notadamente pela propriedade do diagnóstico. A sabedoria popular tem um pé no “Inconsciente Coletivo”, do psicanalista Karl Jung. Isso, todavia, não desautoriza Nelson Rodrigues quando disse: “A multidão é burra”.

A história do Rei nu conta que dois vigaristas convenceram o monarca a comprar um tecido que vestia, apenas, os puros. Trabalhavam noite e dia. Do tear nada saía. Nem tampouco nada se via. Os áulicos, tenebrosos, secundavam a beleza do tecido, a finura, a especialidade. O corte e costura seguiu a mesma estratégia. O rei, cada vez mais vaidoso, experimentava a roupa, que se vestia na conversa mole. Finalmente chegou o dia da festa. Acotovelada nas ruas a população se deparou com a roupa do rei! Com medo do castigo, no mais, elogiavam. Alguns descreviam a beleza do tecido que não se via. Os aplausos secundavam o que deveria ser vexame. Ninguém se atrevia a ver o que de fato se expunha. A inocência de uma criança, todavia, foi profilática: arregalou os olhos e gritou bem alto – O rei tá NU!

A monarquia tem suas histórias. É claro que o fato de muitas vezes ser absoluta deu ensejo a certos exageros. Salomão é um exemplo. Ao julgar a maternidade, de duas mulheres, resolveu que a melhor maneira era partir ao meio a criança disputada. Uma delas preferiu perder. O rei deu a ela a guarda exclusiva. A pecha de justiceiro se mantém até hoje. O blefe só teve efeito porque ambas sabiam que aquele rei, era tão poderoso e sanguinário, que faria o que disse. A República não fica atrás. Alimenta-se de lero-lero.

Candidatos a ditador às vezes são eleitos. O direito de escolher nem sempre é bem exercido. Alguns se apresentam como Messias e o incauto cai na esparrela do discurso inflamado. O povo se sente órfão, tem saudade do rei e abre a brecha para o engodo. As crises favorecem a desventura. Desgoverno, desemprego, desabastecimento, violência, inflação, miséria e fome açulam oportunistas. O misticismo ajuda. A ignorância facilita. Os bajuladores carregam bandeirolas. Distribuem panfletos. Beijam o retrato e o pé do Sassá Mutema, tudo por um sanduíche ou uma moeda qualquer.

É comum ver, devotos, cobrando a quebra do sigilo do voto. Com o dedo em riste acua: você vai votar em quem? Diga que foi a favor do “golpe”... Vira coxinha. A sedução democrática some nessa hora. O pau canta. A vítima, acunhada, se sente pobre e nua, em plena treva ao meio dia. Não custa nada lembrar: cuidado com seu voto. Nada é tão ruim que não possa piorar. Todo cuidado é pouco.

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