O equinócio da primavera, a força e o encanto da cor lilás!

Márcia M.G. Alcoforado de Moraes
Professora Associado - Departamento de Economia/PIMES/PPGEC. Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.

Publicado em: 28/09/2018 03:00 Atualizado em: 28/09/2018 08:52

Atordoada em meio a mensagens cada vez em maior número, imprescindíveis de serem refutadas, adesões inimagináveis ao candidato do ódio e resultados de pesquisas eleitorais prevendo um 2º turno apocalíptico, admito terem sido difíceis e pouco produtivos esses últimos dias. Apenas ao final da semana, dei-me conta que estamos sob o equinócio da primavera. Equinócio diz respeito a épocas do ano em que o dia e a noite têm exatamente a mesma duração. O da primavera no Hemisfério Sul ocorre entre os dias 20 e 24 de setembro e marca o início desta bela estação. Joanita Molina, mestre em espiritualidade, nos dá uma definição menos geofísica do período: é a hora de se despedir das dificuldades. “Esse é um momento de equilíbrio perfeito entre as energias do Sol e da Lua, dia e noite, masculino e feminino, yin e yang. É um momento de cura, esperança e renovação!!!” Perdoem-me os céticos, mas ao contrário da celebridade Anitta, o nosso astro-rei não nos decepcionou, posicionando-se no momento certo nessa fase pré-eleições. Tudo que precisamos é equilibrar energias e semear um tempo novo de alegria e harmonia. Diante de uma real possibilidade de termos que escolher entre candidatos antagônicos, com maiores rejeições do que intenções de voto, “a sensação não é a de estarmos no fundo do poço, mas num poço sem fundo”. Ziguezagueando entre os que querem perdoar o imperdoável e os que passaram a defender o indefensável, encontrei finalmente o meu refúgio em grupos formados por mulheres nas redes sociais. Em comum além da própria feminilidade, uma inegociável rejeição a uma candidatura que legitima comportamentos não só misóginos, mas homofóbicos e racistas, além de negar a existência de pautas femininas que comprovadamente requerem políticas públicas específicas.

A Coordenação de Indicadores Sociais do IBGE lançou este ano as Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil. Pela primeira vez, nossas bases de dados foram organizadas seguindo o Conjunto Mínimo de Indicadores de Gênero estabelecido em 2013 pelas Nações Unidas. Uma rápida consulta a esses indicadores, permite concluir que as diferenças de sexo no Brasil estão longe de ser mimimi de feministas. Quando alia-se à essa, a questão da diferença entre raças e regiões, as disparidades ficam ainda mais nítidas, tendo as negras e pardas e as das regiões Norte e Nordeste os maiores diferenciais. Maior número de horas dedicado a afazeres domésticos e/ ou cuidados com pessoas, influencia na maior proporção de ocupação delas em trabalhos em período parcial. Essa natureza do trabalho explica em parte o menor rendimento médio salarial das mulheres no Brasil. Mesmo controlando-se a questão da parcialidade do horário, a desigualdade se mantém. Vários estudos a explicam pela segregação ocupacional e discriminação, nunca pela escolaridade. Na verdade, as desigualdades salariais se mostram ainda maiores na categoria de ensino superior completo. Relativo à representação política e à ocupação de cargos gerenciais públicos e privados, o panorama não é melhor. Temos 10,5% das cadeiras da Câmara, configurando-se como o pior resultado na América do Sul. Nos cargos gerenciais, a diferença média passa de 20 pontos percentuais. Somos a maioria da população brasileira e constituímos a maior parte do colégio eleitoral. Chefiamos 40% dos lares, muitas com renda de apenas 2 salários mínimos. Além da baixa representatividade na Câmara, somos minoria no Senado (16%) e nos ministérios(7,1%). Nessas eleições com 11 postulantes ao nosso cargo executivo máximo, temos apenas uma candidata. Tem uma rejeição alta, e é comum atribuírem-lhe uma suposta “fraqueza”. Associada ao equinócio de primavera, invoca-se e reverencia-se Ostara. Deusa da Aurora simboliza a “fertilidade na mitologia anglo-saxã, nórdica, celta e germânica. É a Deusa da ressurreição e da primavera.” Passado o equinócio, iniciaremos uma nova semana e junto com ela uma nova estação, quiçá um novo tempo. Passeatas convocadas pelo movimento “Mulheres Contra Bolsonaro” pretendem reviver uma nova primavera feminista. Estão marcadas para amanhã (29) em todo o Brasil. Conclama as brasileiras a caminharem juntas. Rejeitando posturas de intolerância, ódio e violência, colocaremos nossas esperanças na construção de um país inclusivo, diverso, acolhedor e justo. Tenho certeza de que, abençoadas por Ostara, poderemos ajudar o Brasil a se libertar, clarear muito mais e se encantar com a cor lilás.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.