Editorial Alento para o trabalho

Publicado em: 28/09/2018 03:00 Atualizado em: 28/09/2018 08:51

Muito se fala da necessidade de tornar o Brasil mais atraente aos investimentos. Importante, sim, trazer o chamado dinheiro bom, aquele injetado direto na produção, para dentro do país. Convencer o mundo de que vale a pena apostar na nossa economia torna-se ainda mais difícil quando internamente a percepção sobre o país está arranhada, desgastada, esfacelada. Não dá para maquiar.

Além dos milhões de brasileiros “oficialmente” sem emprego, outros tantos ficam escondidos nas estatísticas. Gente que não confia mais na chance de a nação voltar a crescer, que perdeu a esperança de encontrar uma ocupação e gerar renda.

Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, a Pnad Contínua, mostram 12,9 milhões de desempregados no país de maio a julho. Esse grupo é definido como o de trabalhadores que seguem em busca de vaga no mercado. Existem ainda mais 4,81 milhões também sem emprego, mas sem expectativa de conseguir oportunidade. Tentaram, se frustraram e desistiram de entregar currículo em empresas e postos de seleção de pessoal. São os brasileiros desalentados, categoria cujos dados só passaram a ser divulgados no começo de 2018, apesar de ser analisada há seis anos pelo IBGE.

Esse batalhão equivale a praticamente duas vezes a população inteira de Belo Horizonte. São 728 mil pessoas a mais em relação ao segundo trimestre de 2017, uma alta de 17,8%. Mais da metade do total (54,3%) são mulheres e 70% não representam a principal fonte de sustento da família. Desde o início de 2012, quando esse grupo passou a ser medido, o aumento é de 142%. Havia 1,9 milhão de desalentados no Brasil.

Para muitos, numa economia em dificuldades de reagir, melhor esperar baixar a poeira dos indicadores ruins até sair de casa atrás de vaga. Melhor economizar o dinheiro da passagem de ônibus para bater na porta de uma agência. Melhor não se arriscar a se deprimir com outra negativa de emprego. Como observa Cimar Azeredo, coordenador de Emprego e Renda do IBGE, procurar trabalho tem um custo. “É preciso sair de casa, pagar passagem, comprar alimentação, e não é todo mundo que ainda consegue fazer isso. Procurar emprego não é mais para qualquer um.”

Eis aí um enorme desafio para o nosso futuro presidente: fazer o trabalhador confiar no país. Dar a ele coragem para voltar ao jogo do mercado e oferecer a chance real de conquistas. Mais do que se preocupar em vender uma boa imagem do Brasil lá fora, como muitos governantes já fizeram, é preciso olhar para dentro e arrumar muito bem a casa. Trabalho traz renda, que gera consumo, que estimula a produção, que cria empregos e faz girar a roda da economia.

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