Editorial Desafio para a escola pública

Publicado em: 26/09/2018 03:00 Atualizado em: 26/09/2018 06:40

Desde 2014, a crise política e econômica mexeu com todos os setores da economia e com a vida de milhões de brasileiros. Hoje, os desempregados somam mais de 13 milhões. A educação também sentiu o baque. Em média, a cada período de renovação de matrícula, 2% dos estudantes da rede privada migram para as escolas públicas. As famílias não têm suportado reajustes que variam de 5% a 10% ou mais, pois a legislação não impõe teto de correção para setor. O Censo da Educação Básica de 2017 mostrou que, do total de 48,6 milhões de alunos, cerca de 8,9 milhões eram das escolas privadas. No ano anterior, o ensino médio registrou 8,1 milhões de matrículas, dos quais, em cada oito, uma era de egresso da rede privada.

A temporada de renovação de inscrições está aberta. Os dirigentes dos estabelecimentos privados entenderam que as perdas, a cada ano, têm aumentado. Os reajustes salariais nem sempre acompanham o índice de inflação acumulada em 12 meses. Com a superação da fase mais aguda da recessão, a orientação das instituições que representam o segmento é no sentido de manter os reajustes entre 5% e 10% para evitar perdas de alunos para o Estado. Grande parte das escolas particulares, em quase todo o país, está aplicando correções nesse intervalo.

O percentual definido pelas escolas particulares ainda é alto. A maioria dos trabalhadores não teve correção salarial nem ganhos reais que cubram esse aumento de despesa. Muitos não terão outra opção senão levar os filhos para a rede pública. Nesse caso, cabe ao Estado estar preparado para recepcionar os novos alunos.

Educação não pode ser considerada despesa pelo poder público. Trata-se de investimento essencial para que o país consiga vencer as muitas mazelas que afligem a sociedade, como a violência, a intolerância, as desigualdades sociais e econômicas, e se enquadre no grau de civilidade do século 21. Os indicadores do ensino público ainda colocam o Brasil no passado. As deficiências têm de ser corrigidas. Os estudantes não podem sair do banco escolar sem ter compreensão dos textos e sem domínio das quatro operações de matemática.

A escola mantida pelo Estado não deveria ser a segunda opção, mas a primeira para todos os brasileiros e paradigma de qualidade para as unidades particulares de ensino. Como trafegar na via do desenvolvimento, quando o país não prepara os jovens para enfrentar os desafios dos novos tempos nem os capacita para as demandas do setor produtivo? Eis aí a grande missão dos que comandarão o país a partir de janeiro de 2019.

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