Editorial Voto útil

Publicado em: 22/09/2018 03:00 Atualizado em: 23/09/2018 08:16

O voto útil não constitui novidade na história das democracias de massa. Na brasileira, a regra se mantém. Vale lembrar a eleição de 2014. Na oportunidade, o eleitor abandonou Marina Silva, mais bem situada nas pesquisas, em favor de Aécio Neves dois dias antes do pleito. O tucano, com mais chance que ela, seria o candidato mais viável para derrotar Dilma Rousseff.

Este ano se ensaia mudança importante no comportamento do eleitor. Ele vai às urnas não para eleger o postulante de sua preferência, mas para evitar que o indesejado vença. O que antes se observava no segundo turno, constitui agora tendência do primeiro. A guinada tem explicação: a rejeição elevada dos dois extremos. De um lado, Jair Bolsonaro, do PSL. De outro, Fernando Haddad, do PT. Em outras palavras: o brasileiro não deposita a confiança em quem considera o melhor, o mais apto a conduzir o destino do país em período tão delicado como o que atravessamos — com a economia estagnada, 13 milhões de desempregados e violência em alta. Prefere ficar com a opção capaz de impedir a vitória daquele que não deve vestir a faixa presidencial. É o voto contra.

No regime de franquias democráticas, votar é um exercício de liberdade. O eleitor escolhe segundo a própria consciência. Tem o direito até de se omitir ou de anular o voto. Mas, sabe-se, o ato tem consequências. Os políticos não obtêm o mandato por graça divina. Cidadãos comuns lhes dão o passaporte para o Executivo e o Legislativo. E, legitimamente, os ungidos definem os rumos da nação.

Daí, a importância da escolha consciente. Um quadro eleitoral com grande número de postulantes como o de outubro próximo — muitos praticamente empatados nas pesquisas — impõe esforço para separar os melhores ou, conforme a avaliação, os menos ruins. Meios de comunicação de massa, grupos formados na internet, entidades e movimentos sociais precisam fazer a sua parte: convidar candidatos de todos os matizes para discutir as propostas em linguagem concreta, sintonizada com a realidade nacional.   

A mídia tem promovido debates e feito coberturas alentadas para tornar os candidatos mais familiares e os programas (ou ausência de deles) mais compreensíveis. Também põe em questão a viabilidade de executá-los. Inexiste receita mais eficaz para formar consciência política de qualidade, com critérios para a participação ativa e a escolha da pessoa em quem depositar a confiança. Se, diante da urna eletrônica, imperar a certeza do voto útil ninguém impedirá o eleitor de manifestar a vontade. É importante, porém, que o faça conscientemente.

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