Resistir é preciso

Plutarco Almeida
Sacerdote jesuíta e jornalista

Publicado em: 20/09/2018 03:00 Atualizado em: 20/09/2018 08:57

Em dezembro do ano passado o Papa Francisco enviou mensagem aos participantes do Encontro de Políticos Católicos que se realizava em Bogotá, na Colômbia. Dentre outras coisas, Francisco chamava a atenção sobre a necessidade urgente de reabilitar a dignidade da política. Disse ele: “Se penso na América Latina, como não observar o descrédito popular no qual caíram todas as instâncias políticas, a crise dos partidos políticos, a ausência de debates políticos de valor que vissem projetos e estratégias a nível nacional e continental que vão além da politicagem?”.

Creio que se o Papa estivesse hoje no Brasil diria o mesmo. As eleições deste ano confirmam ao pé da letra essa análise. Mal começou a campanha e o que se ouve e o que se vê são frases soltas jogadas ao vento. Estão de volta aquelas velhas e surradas narrativas messiânicas em torno da figura do “salvador da pátria”. Mentiras, intolerância e agressões também voltaram. As redes sociais apenas reforçam tudo isso. Nenhum programa consistente de governo, nada que inspire a mínima confiança ou reacenda algum sinal de esperança, por mais tímida que seja.

O lema comum a todos os partidos é este: “Salve-se quem puder!” Aliás, salvo raras e honrosas exceções, nem se pode falar em partido político no sentido estrito do termo. Mais do que nunca as ideologias partidárias se esvaziaram numa salada sem gosto, sem cheiro e sem sabor, comida indigesta que estão oferecendo ao povo brasileiro nestas eleições. Os extremos não estão assim tão distantes um do outro. Parece que “direita” e “esquerda” são conceitos que se movem de acordo com a vontade dos “donos” do partido e dos interesses de grupos apoiadores. Antigos inimigos da “esquerda” agora são amigos desde criancinha. “Direitistas” até ontem, viraram fortes aliados hoje. Enquanto isso, o eleitor vai perdendo cada vez mais a vontade de participar da política. O povo tem raiva dos políticos e da política. E agora que chegamos ao fundo do poço do descrédito eis que surgem essas cordas frouxas a prometer-nos resgate. Quem vai se arriscar?

Apesar de tudo, resistir é preciso! As pessoas de caráter, as lideranças em todos os níveis não devem jogar mais água suja nesse poço. Fugir do assunto também não resolve. Pelo contrário, é preciso combater o trabalho maléfico de muitos “influenciadores digitais” e fomentar mais o diálogo respeitoso, divulgar informações corretas e, sobretudo, buscar com coragem e lucidez, as respostas de que o Brasil precisa. Vamos fazer isso nas associações de bairro, nos condomínios, nas igrejas, em todos os lugares. As respostas de que precisamos não sairão da boca milagrosa de ninguém. Tampouco vão cair do céu por descuido. As respostas só podem estar na ação política que nasce do diálogo democrático e busca verdadeiramente o bem de todos e não apenas de alguns.

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