Prefeitos do Recife: o livro de Jorge José
Luzilá Gonçalves Ferreira
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras
Publicado em: 18/09/2018 03:00 Atualizado em: 18/09/2018 00:40
Foi um grande encontro na Câmara dos Vereadores, semana passada, para o lançamento do livro Prefeitos do Recife, uma breve história, da autoria de Jorge José. B. Santana. Aconteceu no auditório da Câmara, outrora Salão Nobre do Iep, antiga Escola Normal, onde por muitos anos nós, alunas, celebrávamos datas cívicas, presenciávamos aulas magnas de concursos para professores catedráticos, concertos de música erudita por alunas como Elyanna Caldas, recitais de poesia. Ali torcíamos por nossos professores, recordo Mauro Mota defendendo seu Cajueiro Nordestino, cientista e poeta, Geraldo Lapenda proclamando a necessidade do Latim, Sá Barreto e José Brasileiro defendendo o bom falar português. Um acontecimento. A gente se espantava, e até vibrava com soturna alegria de revanche, quando um mestre menos querido era arguido. Recordo a vez em que um examinador assim se dirigiu a um desafeto: “As conclusões não são boas, e as boas não são suas”, imaginem! Perdoem essas digressões, voltemos ao livro de Jorge José, esse recifense mais que conhecido e respeitado na mídia televisiva e jornalística de nosso estado. Professor de Comunicação, autor de teleteatro na TV Jornal, Rádio Clube, Universitária, entre outras, produtor de telenovelas. Enquanto pesquisador de nossa vida política e social, publicou O Rádio Pernambucano por quem o viu nascer, e O Rádio Pernambucano por quem o viu crescer; Jornais e Jornalistas, imprensa pernambucana; Os governadores de Pernambuco. Ensaista, obteve Menção Honrosa ao Prêmio Antonio de Brito Alves da Academia Pernambucana de Letras e por conjunto de obras. a medalha Francisco Pessoa de Queiroz, concedida pela Associação das Empresas de Rádio e Televisão de Pernambuco. Um senhor livro, este Prefeitos do Recife, uma breve história. Não tão breve. Aprendemos que em 127 anos tivemos 42 prefeitos, desde José Mariano até Geraldo Julio. O autor faz uma séria retrospectiva da vida da cidade, no passado e no presente Entrevistou políticos, conversou com os últimos edis, comentou suas realizações, suas dificuldades, os posicionamentos de toda sorte para dirigir gregos e troianos. Tudo isso bem documentado com fotografias, recortes de jornais de época, testemunhos de funcionários. Vez por outra uma descoberta interessante: Gustavo Krause gostaria de ver a realização da Transnordestina, a malha ferroviária que destruímos, que o mundo inteiro conserva, (que nos teria livrado desse desastre nacional ocasionado pela recente greve dos caminhoneiros). Sabemos igualmente que, apoiado por Paulo Freire, João Paulo foi bolsista do Centro de Estudos da América Latina, para cursos de capacitação sindical na França, Itália, Bélgica, Portugal. Em tudo isso, entretanto, ausência de mulheres, salvo uma foto sem mais explicações, da primeira vereadora do Recife, Julia Santiago. Diante desse senhor livro, obra de referência sobre o assunto, e por esta ausência feminina entre prefeitos da cidade, esta colunista lembrou um poema do argentino Baldomero Fernandez Moreno, ao contemplar um prédio no bairro de Caballito, em Buenos Aires: enorme, solene, setenta varandas mas sem flores: “Setenta balcones hay en esta casa / setenta balcones y ninguna flor. A sus habitantes, Señor, que les pasa? Odian el perfume, odian el color?” Nota ao leitor: o poema completo está no Google sob a menção “y ninguna flor”. Belíssimo.