Amigos sertanejos, folcloristas, escritores, poetas, singela homenagem

Marly Mota
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 17/09/2018 03:00 Atualizado em: 17/09/2018 08:45

O poeta folclorista Ascenso Ferreira, fez-se sertanejo de crendices populares, na sua cidade natal de Palmares, zona canavieira do sul de Pernambuco, juntamente com seu conterrâneo, grande escritor, Hermilo Borba Filho, de frequentes, conversas, com Mauro Mota, em nossa casa de Olinda. Ascenso Ferreira figura folclórica, acumulava o seu imenso peso a sua altura de 1m80. De uso inseparável o chapéu de palha, com abas largas, vozeirão fora da acústica. Sempre aclamado, em mesas de bares, prosando ou versejando para agregados, caçoando dos que se excediam: “Se aguardente era o diabo, pra que bebeu, Se o copo era grande, pra que encheu !

Assis Chateaubriand, presidente dos Diários Associados, embaixador em Londres, nas vindas ao Recife, em comitiva de amigos do sul e além mar, com plays boys, condessas, para conhecerem ás belas praias do nosso litoral, as seculares casas-grandes de antigos engenhos de cana de açúcar, instituições culturais. À noite, festival em frente ao Diario de Pernambuco, enfileiradas cadeiras para visitantes, diretores do Diario, Mauro Mota, comigo, Anibal Fernandes com Fédora, pintora da escola francesa de Paris, igualmente, com os irmãos, Vicente Rego Monteiro e Joaquim, maior que Vicente. Dele tenho quadro, pintado em Paris, 1930. Ascenso Ferreira, muito aclamado, soltando o vozeirão, ao anunciar a troça do Maracatu Leão Coroado, Sertões, Trem de Alagoas, Bumba-meu boi, Oropa, França, Bahia. Deixando por último sua quadra Filosofia: “Hora de dormir, dormir, Hora de comer, comer, hora de trabalhar, pernas pro ar que ninguém é de ferro”!

Everardo Norões, quando menino no Sertão cearense, na fazenda da família, pulava cercas atrás das jabuticabas maduras. Ao clarear do dia, levava o copo ao curral prá tomar leite, ao pé da vaca, costume generalizado nas fazendas sertanejas. Em época que vai longe, no Agreste central de Pernambuco, na Fazenda Alegre dos meus pais, com os meus irmãos, por hábito tomávamos leite, ao pé da vaca, tirado pelo vaqueiro Adauto, de léguas de chão a defender-se do bando ao qual pertencera. Fora cabra de Lampião. Meu pai lhe dera abrigo. Adauto retribuiu com gratidão. Morando com a família na nossa Fazenda Alegre, colocara nos seus quatro filhos, nossos nomes, o meu e dos meus irmãos.

Mais adiante acompanho Norões com seus poemas. Autor e co-autor das peças: Alto das Portas do céus, e Nascimento de outro sertanejo, cita o escritor Ronaldo Correia de Brito (das minhas leituras) escreve Norões: “Em suas dúvidas, um conflito, ser escritor ou dedicar-se à medicina’

O pintor, amigo meu e de Mauro Mota, Lula Cardoso Ayres, organizou seu arquivo, fotografando manifestações populares: Bumba-meu-boi, Cavalo Marinho, para suas telas. Amigo do pintor Di Cavalcanti, que no Rio nos recebia no seu refúgio à Rua do Catete, sabendo do meu lado Cavalcanti, virou e revirou o parentesco, prometendo vir ao Recife, fazer o meu retrato. Ficou só na lembrança ! Lula Cardoso Ayres, generosamente ilustrou o meu livro Pátio da Matriz, pela edição Concordia – Cepe 1 9 6 5. Desde então, as ilustrações permanecem dando brilhos à minha sala.

São muitos os Barbosa sertanejos surubinenses admirados, meus primos, Lourenço Capiba, compositor músico, poeta, com sua amada Zezita, guardiã do seu acervo cultural. Acadêmico de medicina Abelardo Medeiros Chacrinha, estudante de medicina, membro da famosa DandAcademica, de férias em nossa casa de praia, em almoços, encontrava nosso amigo, sociólogo Gilberto Freyre, que já o aplaudia, como grande comunicador da televisão brasileira. Estou ao lado de amigos sertanejos na APL. Escritora Luzilá Gonçalves Ferreira, sertaneja, de Garanhuns. Do filósofo ngelo Monteiro, amigo dos sertanejos em Penedo Alagoas. Do professor, filósofo Lourival de Holanda, de além Pesqueira. Do mestre Raimundo Carrero, sertanejo, filho de Salgueiro. Eu, sertaneja ou quase. Modestamente me incluo, louvando-os  

De volta ao Recife, o casal sertanejo Everardo Norões com sua amada Sonia Lessa Norões, abrem os portões do belo casarão onde recebem os amigos. Lá estive, algumas vezes, encontro a bela moça judia, artista plástica, Guita Charifker. Sua procedência, me fez lembrar muitas amigas judias da minha adolescência, ficamos amigas, até quando Deus a levou. Afeitos às realizações, Everardo e Sonia organizaram o 5º livro com alguns poemas inéditos, de Mauricio Motta dando-nos o belo exemplar de Curral da Fala. Com “introdução do Everardo Norões, poema do grande Jaci Bezerra. Opiniões, de Joaquim Cardoso, Gilberto Freyre, Fausto Cunha, crítico literário no Rio de Janeiro.  

Aos sertanejos meus amigos, poetas, pintores, filósofos, folcloristas, escritores, dedico com amizade, este modesto texto.

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