Editorial Desafios para 2019

Publicado em: 17/09/2018 03:00 Atualizado em: 17/09/2018 08:44

O Brasil está parado no tempo. Pelo terceiro ano consecutivo, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) estacionou em 0,759, segundo o levantamentodo programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), referente a 2017. O único movimento foi o aumento da desigualdade. No quesito distribuição de renda, o país caiu 17 posições, passando de 0,759 para 0,578, uma queda de 23,9%, resultado que pode ser associado ao aumento do desemprego e também ao crescimento da miséria. Hoje, são mais de 13 milhões de brasileiros fora do mercado de trabalho e 14,83 milhões em situação de extrema pobreza — aumento de 11,2% na comparação com 2016, segundo análise da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As desigualdades não param aí. Mesmo com maior tempo de escolaridade (15,9 anos ante 14,9 dos homens), a renda nacional bruta per capita da mulher é 42,7% inferior. Segundo o Índice de Desigualdade de Gênero, calculado em 160 países, o Brasil ocupa a 94ª posição, o que rebaixa o índice nacional para 0,407, na escala de 0 a 1 — ao contrário do IDF, nesse caso quanto mais próximo de zero, melhor é a situação do país avaliado. O estudo do Pnud mostra ainda que o trabalho doméstico consome 4,3 vezes mais o tempo da mulher na comparação com o do homem, ou seja, 13,3% do tempo dela é dedicado a essa atividade não remunerada, enquanto ele gasta apenas 3,1%.

No cenário político, a situação da brasileira é igualmente grave. O Brasil tem o pior resultado da América do Sul e fica atrás do Níger, que tem o menor IDH do mundo. No país africano, as mulheres ocupam 17% das cadeiras no parlamento, enquanto as brasileiras detêm só 11,3%. O resultado é parte da ilustração da cultura machista dominante no país, que insiste em colocar a mulher sempre em situação de inferioridade, e subserviência, tanto no trabalho quanto na política.

Outro dado preocupante é quanto à educação. O relatório do Pnud corrobora estudos nacionais e também da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de que há muito o que fazer para elevar a qualidade do ensino no país. Desde 2015, o Brasil está estacionado no que se refere à expectativa dos anos de escolaridade de um cidadão: 15,4 anos. No entanto, estudo do Ministério da Educação mostrou que, em média, o brasileiro estuda 7,4 anos, pouco mais da metade do que um alemão, que, em média, frequenta o banco escolar por 14 anos.

Tantas diferenças indicam que o futuro governo, que tomará posse em 1º de janeiro de 2019, terá questões estruturais e sociais para encarar e buscar soluções. Longe de sonhar com planos mirabolantes, deverá considerar os dados, em farta quantidade, oferecidos por instituições nacionais e estrangeiras sobre os pontos críticos que o Brasil precisa desatar, a fim de chegar à condição de nação desenvolvida. Apesar de o cenário político estar bastante conflituoso, a maioria dos brasileiros esperam de um novo tempo a partir do próximo ano, que leve o país ao reecontro com o crescimento e desenvolvimento econômico, com menos desigualdades, mais justiça social, educação, segurança e oportunidades de trabalho.

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