As eleições sem Lula

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 15/09/2018 03:00 Atualizado em: 15/09/2018 05:34

Passamos por problema lamentável nessas eleições, que foi a ocupação das preocupações da população com a adequação ou não de Lula ser candidato a presidente. Isso reduziu a formação de consensos e aprofundamento de discussões importantes na sociedade, que podem ser fundamentais para reequilibrar o país e promover o desenvolvimento no pós-eleições. Além disso, o PT tentou passar a mensagem de que os problemas do país são apenas a perseguição aos pobres realizada pelas elites, o que não contribui para a formação de consensos sociais e é uma visão simplista e razoavelmente enganadora. Além disso, essa postura só leva a mais divisão social e menos definição de estratégias factíveis para a superação dos problemas essenciais. Mais da metade do período de discussões eleitorais, incluindo-se aí um longo período de pré-campanha, foi gasto com uma dicotomia que tergiversa os verdadeiros problemas nacionais. A consequência foi a ruptura do pacto democrático no país, o que seguramente terá impacto profundo na governabili
dade do país nos próximos anos.

A postura do PT para acobertar crimes de seu líder maior foi tentar desmoralizar as instituições com vistas a forçar a absolvição de Lula dos seus crimes contra a democracia (corrupção). Com isso, toda a luta da esquerda nos últimos 54 anos para estabelecer instituições sólidas, confiáveis e justas no país foi desmoralizada na cabeça de muitos esquerdistas e simpatizantes. A democracia deixou de ser prioridade para proporção relevante da sociedade. Isso afastou os segmentos sociais mais preocupados com um conceito mais profundo de democracia, que vê na transparência, estabilidade e equilíbrio das instituições fatores fundamentais para promover a justiça social. Ou seja, o PT afastou-se da esquerda moderna e mais verdadeira, além de também expelir qualquer simpatia e aliança social com os segmentos mais de centro esquerda. Além disso, ele associou-se de forma mais forte aos movimentos sociais de raízes golpistas, que não respeitam a ordem institucional, como MST, PSTU, PCdoB e outras organizações de cunho autoritários.

Com essa estratégia do PT, grupos sociais com ideias democráticas menos consolidadas, mas que viviam sob a influência ideológica da esquerda institucionalista e seus associados, se desgarraram dos seus líderes e assumiram postura menos democrática. Sem a preocupação de corresponder a expectativas dos seus aliados e líderes democratas, muitos aderiram à proposta voluntariosa e autoritária de Bolsonaro, desde que fosse moralizadora. O apego menor à democracia, até mesmo por utilizar menos recursos analíticos nas suas formulações, fez com que esses segmentos não repelissem a postura autoritária do candidato do PSL, desde que trouxesse mais segurança e ordem, como promete.

Isso significa que a força de Bolsonaro nessas eleições é resultado da postura do PT e seus aliados autoritários, cujo objetivo único tornou-se livrar Lula da cadeia, mesmo que para isso tivessem que desmoralizar as instituições democráticas do país e fomentassem apoio a ideologias autoritárias. Ou seja, a herança da insistência do PT em manter a discussão sobre a legitimidade de uma candidatura de Lula foi a ascensão de Bolsonaro e a probabilidade alta de ele ir ao segundo turno e poder realmente se tornar presidente. Depois do desastre Dilma e da liberalização da corrupção desenfreada, essa é mais uma dívida que o PT fica com a verdadeira esquerda brasileira.

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