Editorial Cautela com as reservas

Publicado em: 15/09/2018 03:00 Atualizado em: 15/09/2018 05:34

Em tempos de disparada do dólar — a cotação da moeda estrangeira atingiu o maior patamar desde a implantação do Plano Real —, o colchão de divisas do Banco Central (BC), em torno de US$ 380 bilhões, é o maior seguro que o país tem para enfrentar uma crise cambial de maiores proporções. E também para encarar as incertezas geradas pela proximidade do pleito de outubro, os reflexos no Brasil da instabilidade econômica na Argentina e em outros países emergentes, como a Turquia, e a possibilidade de elevação da taxa de juros nos Estados Unidos, o que provocará migração dos investimentos para a maior economia do planeta.

As reservas brasileiras são a garantia de que o país dispõe do mecanismo para combater uma crise especulativa. Por isso, é grande a responsabilidade da próxima equipe econômica a ser indicada pelo novo presidente da República se pretender usar as divisas de maneira heterodoxa. Não há espaço para aventuras em momento tão delicado para a economia do país, às voltas com um déficit público gigantesco e lutando para conseguir pôr um freio nos gastos públicos. Soluções milagrosas não existem e a preservação das reservas é de fundamental importância para a segurança econômica do país.

Diante desse cenário de dificuldade extrema para o pagamento da dívida pública, muitos se perguntam por que o governo federal não usou parte das divisas estrangeiras para quitar a dívida. As opiniões entre os economistas se dividem. Alguns acreditam que o governo pode, sim, mexer nos recursos para saldar parte do débito. Outros creem que o dinheiro deveria ser usado para investimento em projetos de infraestrutura.

O governo, de forma acertada, tem preservado o nível das divisas, numa clara demonstração de que tem caixa para honrar os compromissos em moeda estrangeira. Isso acaba gerando confiança no exterior e criando as condições para atração de novos investimentos, tão necessários para a combalida economia nacional. E não se pode ignorar que alguns países têm usado os excessos de reservas para formar ou manter fundos soberanos de investimentos no exterior.

Até agora, os candidados a presidente não abordaram a questão e, se o fizeram, foi de forma bastante superficial. Dificilmente falarão de maneira aberta o que pensam a respeito do assunto. Talvez porque a questão não interesse aos eleitores, mais preocupados com a falta de segurança, educação de péssima qualidade e saúde sucateada. No entanto, é de inteiro interesse da sociedade a postura do futuro mandatário em relação ao uso das reservas internacionais. Lançar mão delas com a adoção de fórmulas mágicas pode acabar provocando maiores turbulências. Portanto, toda cautela se faz necessária quando os novos condutores da economia se debruçarem sobre a conveniência ou não do uso das reservas internacionais.

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