Editorial Fragilidade econômica

Publicado em: 14/09/2018 03:00 Atualizado em: 14/09/2018 08:47

O fraco comportamento do varejo é mais um indicador a demonstrar que a economia brasileira vem patinando, nos últimos meses, e que a esperada recuperação não vem acontecendo conforme as expectativas. O decepcionante desempenho econômico deve-se a fatores como as incertezas quanto aos rumos da economia com o novo presidente da República, a ser eleito daqui a pouco mais de 20 dias, até a greve dos caminhoneiros de maio passado, que paralisou o país por 11 dias, com reflexos negativos em inúmeras áreas dos setores produtivos.

Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acusa a queda, pelo terceiro mês consecutivo, de 0,5% nas vendas no varejo em julho, em relação ao mês anterior. Os dados são preocupantes, pois o resultado foi bem pior do que o esperado. Especialistas tinham a expectativa de um avanço de até 1,10% nas atividades do setor varejista, o que certamente contribuiria para uma melhor performance do Produto Interno Bruto (PIB), que no ínício deste ano era estimado em até 3% e que agora gira, para os mais otimistas, em torno de 1%, índice considerado muito aquém para a volta a taxas satisfatórias de crescimento.

A greve dos caminhoneiros teve impacto direto na retração do comércio, o que já era esperado, mas não na abrangência detectada. De acordo com a Coordenação de Comércio e Serviços do IBGE, a maioria dos analistas esperava expansão do varejo, o que acabou não ocorrendo. Houve baixa em cinco das oito atividades analisadas pela Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), sendo destaque o setor de móveis e eletrodomésticos, com variação negativa de 4,8%, seguido de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-2,7%); artigos de uso pessoal e doméstico (-2,5%); tecidos, vestuário e calçados (-1,0%); e livros, jornais e papelaria (-0,9%). Houve alta nas atividades de hipermercados, supermercados, alimentos, bebidas e fumo (1,7%); combustíveis e lubrificantes (0,4%) e artigos farmacêuticos, médicos e ortopédicos (0,1%).

Os indicadores de que o quadro econômico se deteriora a cada dia também vêm do exterior. O risco Brasil dobrou este ano por causa da incerteza quanto ao futuro da economia no próximo governo. O índice, que estava em 140 pontos no início do ano, bateu 282 pontos esta semana, o que provocou apreensão no mercado. Nada comparável aos 700 pontos da Argentina — o país vizinho vem enfrentando grave crise econômica — e aos cerca de 500 da Turquia, cuja economia também apresenta sérios problemas.

A questão central é se o novo presidente vai honrar o compromisso assumido pelo atual governo de controle das contas públicas. O ajuste fiscal é fundamental para o crescimento econômico, pois a trajetória da dívida pública brasileira é insustentável. A atual política de ajuste tem de ser mantida, qualquer que seja a tendência ideológica do próximo ocupante do Palácio do Planalto. O Brasil não pode correr o risco de se tornar insolvente, o que pode acontecer se medidas populistas e irresponsáveis forem colocadas em prática.

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