Editorial A fome afeta 5,2 milhões de brasileiros

Publicado em: 13/09/2018 03:00 Atualizado em: 13/09/2018 08:50

Os avanços tecnológicos e o crescimento da produtividade na agropecuária não foram suficientes para erradicar a fome no planeta. Hoje, 821 milhões de pessoas — aumento de 6 milhões entre 2016 e 2017 — passam um dia ou mais sem se alimentar. Em contrapartida, 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas todos os anos, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), responsável pelo estudo A Segurança Alimentar e a Nutrição no Mundo divulgado na terça-feira. Além das perdas, os fenômenos climáticos, os conflitos bélicos e as desigualdades sociais e econômicas contribuem para esse quadro desolador.

Entre todas as regiões do globo, a América Latina é que a que tem menos perdas. Mas ainda assim, 15% da produção ou 80 milhões de toneladas acabam no lixo. O Brasil, com um descarte anual de 41 mil toneladas de comida, está na 10ª posição no ranking mundial em desperdício. O impacto econômico é alto. Em 2016, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) avaliou que teve prejuízo de R$ 7,1 bilhões com as perdas de produtos alimentícios industrializados e in natura.

No Brasil, a fome está estagnada, com 5,2 milhões de brasileiros que não têm como se alimentar diariamente. Mas o que parece ser positivo não passa de alerta. Excluído do Mapa da Fome em 2014, o risco de retrocesso é grande. Os motivos estão relacionados à crise econômica e política iniciada em 2014, à retração dos investimentos públicos e privados, ao desemprego de mais de 13 milhões de trabalhadores e ao congelamento dos gastos da União por 20 anos, além de cortes em programas sociais, como o Bolsa Família (1,1 milhão a menos de beneficiários).

Hoje, grande parte do que é perdido no Brasil se deve à logística de armazenamento dos produtos agrícolas e ao transporte. A malha rodoviária mal conservada e os agricultores não podem contar com hidrovias nem ferrovias para o transporte dos produtos, o que implica sérios prejuízos. O armazenamento inadequado também resulta em perdas.

A pouco mais três meses da posse, o futuro ocupante do Palácio do Planalto terá que contemplar no seu programa de governo medidas que levem à cicratização dessa chaga social e evitar que o país volte ao Mapa Mundial da Fome. O retorno seria vergonhoso ante o vigor da agropecuária nacional, que tem relevante papel na balança comercial. O novo presidente terá que desenvolver políticas públicas que permitam ao país recuperar a credibilidade ante os investidores nacionais e estrangeiros, a fim de que oportunidades de emprego sejam criadas e os brasileiros possam, com dignidade, suprir suas necessidades básicas e essenciais a vida, como o alimento diário.

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