Editorial SUS, 30 anos

Publicado em: 11/09/2018 03:00 Atualizado em: 11/09/2018 08:57

O socorro prestado a Jair Bolsonaro em Juiz de Fora chamou a atenção para o Sistema Único de Saúde (SUS). Gravemente ferido em manifestação na cidade mineira, o candidato foi levado às pressas para uma unidade da rede pública. Lá, recebeu o atendimento que lhe salvou a vida. No dia seguinte, ao ser transferido para o Hospital Israelita Albert Einstein, a equipe médica paulista reconheceu a qualidade do procedimento, sem o qual correria sério risco de óbito.

É natural que atentado contra o campeão nas pesquisas eleitorais para a Presidência da República mereça os holofotes da mídia e desperte o interesse da população. O ato de violência chocou. Até os adversários o condenaram unanimemente. Com razão. A facada não feriu só o candidato. Feriu as conquistas de civilidade da sociedade brasileira. Daí a expectativa de que os fatos sejam apurados e o responsável (ou responsáveis) punido.

A tragédia teve, se assim se pode dizer, um aspecto positivo. Forçou um olhar diferente para o SUS. Normalmente o sistema sofre duras críticas. Imagens mostram filas sem fim, demora no atendimento, falta de leitos, de profissionais, de medicamentos. Não raro erros médicos. É fato. É fato também que existem setores aptos a competir em eficiência e qualidade com a rede privada.

Vale lembrar o programa de vacinação. O Brasil conseguiu tecer uma rede de cobertura capaz de atender os rincões mais distantes e inacessíveis do país. Erradicou, com isso, doenças que mutilavam ou matavam crianças e adultos. As campanhas nacionais tornaram-se referência da Organização Mundial da Saúde (OMS). O êxito apagou da memória da população os tristes episódios protagonizados por brasileiros entregues à sorte. Daí, talvez, a queda na cobertura vacinal. Pais negligenciam a prevenção. É criminoso.

Outras áreas merecem ser lembradas pela qualidade dos serviços oferecidos e resultados alcançados. É o caso do controle da malária e de doenças endêmicas e da redução substantiva das ocorrências da doença de Chagas. Também das enfermidades transmitidas sexualmente. Entre elas, a aids. Não se pode esquecer o controle das hepatites e da hanseníase. Tampouco o tratamento da tuberculose.

Ao completar 30 anos, o Sistema Único de Saúde tem conquistas a comemorar. Há que reconhecê-las. Mas precisa ir além. Passo importante é a melhora no atendimento à população. Hoje, 80% dos brasileiros recorrem ao SUS para se tratar. São 166 milhões de pessoas. Com a crise econômica, é previsível que o número aumente porque, sem condições de pagar a saúde privada, muitos migrarão para a pública.

Avanços na área tornam a saúde cada vez mais sofisticada e cara. Os recursos serão sempre escassos. O desafio: buscar medidas eficazes com custo relativamente baixo para fazer frente ao progresso e à demanda. Além da gestão profissional, do corte do desperdício e do investimento na prevenção, parcerias entre hospitais de ponta e hospitais do SUS acenam com novos caminhos a seguir. Os governantes que serão eleitos em outubro terão de responder aos anseios da sociedade. Esses são pontos inadiáveis a serem considerados. Sem politicagem.

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