Vítimas da insanidade

Publicado em: 10/09/2018 03:00 Atualizado em:

O atentado contra o presidenciável Jair Bolsonaro, na tarde de quinta-feira, na cidade mineira de Juiz de Fora, consternou o país. Todos os oponentes, de diferentes matizes ideológicas, se solidarizaram com o candidato do PSL, gravemente ferido no abdômen por uma facada. Os postulantes ao Palácio do Planalto condenaram a agressão contra ele, que maculou de sangue a democracia brasileira.
É importante, porém, deixar claro que o caso Bolsonaro não é exceção. A violência na política é constante no Brasil, ainda que os casos, em grande maioria, estejam distante dos holofotes da mídia. Entre 1998 e 2016, 79 candidatos a vários cargos foram assassinados no país. Outros 20 pré-candidatos foram mortos entre dezembro de 2015 e agosto de 2016, sendo 11 só no Rio de Janeiro. Os conflitos políticos ainda levaram à morte 124 ativistas entre janeiro de 2016 e agosto do ano passado.
O mais assustador é que grande parte desses crimes nem sequer é esclarecida. As vítimas da insanidade política se perdem entre os mais de 60 mil brasileiros que são mortos por ano. Em 2017, foram 63.880 homicídios, o que coloca em xeque as políticas de segurança pública e dão visibilidade à falta de controle do Estado sobre a circulação de armas no território nacional.
Repensar o enfrentamento da violência, com a redução do número de armas em circulação no país, passou a ser uma questão urgente. Isso passa, inclusive, pela exclusão da liberação do uso de armamentos prevista no programa de governo de Bolsonaro. Não há como ignorar que o fácil acesso aos artefatos bélicos — sejam armas de fogo, sejam brancas — tem tudo a ver com os vergonhosos índices de mortalidade que superam os de nações em guerra.
Muitos vão dizer que o momento não é o mais adequado para discutir o controle de armas, pois poderia soar oportunismo diante do atentado a Bolsonaro. Na verdade, o que aconteceu com o presidenciável só reforça a visão de que não se combate a violência com mais violência. Os brasileiros, precisam, sim, ter mais segurança ao sair às ruas e ao expressarem suas opiniões. Não podem mais viverem sitiados, como ocorre em muitas cidades, porque podem ser as próximas vítimas.
O aumento da violência só interessa ao crime organizado. Não é possível que postulantes ao cargo mais alto da nação acreditem que a solução para todos os males está no armamento da população. A hora é de consenso pela paz. Na política, as divergências devem ser enfrentadas no debate e nas urnas. Ao governo, cabe garantir a segurança de todos, independentemente de ideologia.


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