Presidência: olhar pelo feminino

Luiz Otavio Cavalcanti
Ex-secretário de Planejamento e Urbanismo da prefeitura do Recife, ex-secretário da Fazenda de Pernambuco e ex-secretário de Planejamento de Pernambuco.

Publicado em: 08/09/2018 03:00 Atualizado em: 10/09/2018 09:51

Mulher é um ser forte. Poucos discordarão desse conceito. Basta analisar pesquisa social no Brasil. As mulheres são maioria na chefia das famílias brasileiras. Mas, quando se trata de eleição, muda o valor. E a avaliação. À mulher cabe, no máximo, a vice.  

Venho discordar. Começando por exemplos históricos. Uma, no Oriente, Golda Meir. Outra, no Ocidente, Margareth Thatcher.

Israel, como Estado nacional, não teria se consolidado se não fosse a liderança persuasiva de Golda. Não me remeto a Ben Gurion. Que foi o primeiro ministro no ato inaugural da independência. Refiro-me ao processo de consolidação do Estado israelense. Mais demorado, mais costurado. E, portanto, mais exigente de habilidades.

A Inglaterra não contaria com a estabilidade fiscal, que a caracteriza, se não fosse a liderança determinada de Thatcher. Os ingleses são uma ilha geográfica. E são uma ilha de sanidade fiscal. Obtida, nos anos 70, pela primeira ministra. Enfrentando, com garra de leoa, os sindicatos do aço.

Volto ao presente. Quando se discute o perfil dos candidatos à presidência da República, ocorre fato curioso. A preferência por outros nomes, que não o de Marina, não se justifica por qualidades dos outros candidatos. Mas por suposta fraqueza de Marina. Haverá oculto preconceito aí ?

Vamos examinar objetivamente a questão. A situação do país é complexa. A economia estagnada. O déficit primário nas contas públicas projetado para os próximos dois anos. A política recortada por interesses parlamentares agrupados no mundo rural, no universo religioso e nas corporações públicas. O ambiente empresarial necessitando respirar confiança. O povo, crucificado na desigualdade, quer mudança.

A mudança não virá com bala. Não virá com centrão. Não virá com os comissários que perderam o sentido da política. Para se dedicar à aparelhagem do poder. Estes são fatos. Comprovados em evidências recentes: troca de favores entre Executivo e Legislativo; corporativismo do Judiciário; processos criminais da Lava-Jato.

Portanto, os candidatos, que representam esses movimentos, não demonstram propósito nem veracidade nos seus discursos.

A complexidade do quadro brasileiro exige três aptidões: capacidade de liderança, energia psicológica e visão de resultado. Liderança para conduzir. Psicologia para convencer. Resultado para mudar.

Essas aptidões se vinculam a novo modelo de gestão. Modelo de gestão com habilidades diferenciadas. Habilidades com características próprias do feminino. Quais são essas habilidades próprias do jeito feminino de administrar ?

São a sensibilidade para ouvir; a disposição para negociar; e a capacidade para decidir. Ouvir, negociar e decidir. Esses são os elementos estratégicos de um acordo. E são características básicas do modo feminino de agir.

Pesquisas recentes da Universidade de São Paulo e da Fundação Dom Cabral sobre o papel de liderança da mulher atestam o estilo feminino de administrar. O equipamento emocional feminino para mapear soluções nas organizações é excelente. Mais sensível e mais paciente. Adequado a situações de estresse. Apropriado a culturas complicadas. Que exigem resiliência e obstinação.

Resiliência e obstinação são qualidades que a mulher brasileira certifica diariamente em casa, na rua, no trabalho. Uma seringueira, que superou a doença na juventude e se tornou senadora, as tem. Uma ministra do Meio Ambiente, que ouviu, negociou e decidiu, as tem.

Por isso, debate sobre candidatos deve acentuar qualidade de cada um. E a demonstrada fortaleza dela.

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