Editorial Um atentado à democracia

Publicado em: 07/09/2018 03:00 Atualizado em: 07/09/2018 11:04

A facada que atingiu em cheio o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, não só colocou em risco a vida dele, como feriu gravemente a democracia. É inadmissível que atos violentos como o ocorrido em Juiz de Fora (MG) tentem calar qualquer voz neste debate tão importante que o Brasil empreende. A suspeita de motivação política na agressão torna a situação ainda mais grave. O grande trunfo de um país é justamente a multiplicidade de ideias, que permite à população decidir qual o melhor projeto de nação a ser seguido.

Atitudes extremas só acirram a intolerância, inimiga de morte do Estado Democrático de Direito. Discordar de opiniões, de posições políticas, de visão de mundo, é um direito de todos. Ser de esquerda, de direita ou de centro é uma escolha pessoal, de cada cidadão. É importante lembrar que não só as agressões físicas devem ser banidas. Tentar impôr vontades, ideias, é mais do que desrespeito, é uma violência que não se pode tolerar. A defesa de um pensamento único como salvação para todos os males alimenta monstros, cujos resultados são imprevisíveis.

Numa eleição, a disputa se dá por meio dos votos. A violência, muitas vezes incentivadas por candidatos ao cargo mais importante do país, não pode tolher a liberdade de escolha. Há exemplos gritantes na história em que as vozes divergentes foram caladas e o desastre se consumou. O Brasil, com sua jovem democracia, passa por um momento preocupante. A radicalização é visível, sobretudo nas redes sociais. Com o país rachado, famílias estão sendo separadas e amizades, desfeitas. Tomara esses tempos sombrios sejam dissipados e o bom debate político nas mesas de bar, nas filas de supermercados, voltem a prevalecer.

Neste ano, por intolerância e interesses escusos, uma jovem vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, e seu motorista, Anderson, foram mortos a tiros. Na próxima semana, serão completados seis meses sem que o crime tenha sido desvendado e os culpados, presos. No caso de Bolsonaro, o autor da facada está atrás das grades, e certamente será punido com o rigor da lei, mas ficou explícita a fragilidade da nossa democracia, em que a violência se tornou banal e contaminou a política.

Deve ser um trabalho de todos construir um sistema de convivência pacífica e de livre trânsito de ideias, com vistas à concepção de um país melhor. É algo que todos desejam, mas que não vai brotar do solo espontaneamente. Só com entendimento haverá paz e desenvolvimento. O ódio não leva à nada. Que todos se sintam livres para expressar seus pensamentos e para contribuir com o debate. O Brasil precisa de todas as vozes, ainda que algumas sejam radicais.

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