Editorial Saúde exige vigilância constante

Publicado em: 05/09/2018 03:00 Atualizado em: 05/09/2018 08:53

A Campanha Nacional de Vacinação contra poliomielite e sarampo, encerrada na sexta-feira, ficou abaixo da meta de 95% do público-alvo, fixada pelo governo federal. Foram aplicadas 18 milhões de doses, mas 2,7 milhões de crianças, entre um e cinco anos, não foram protegidas. No último dia do movimento para imunização, somente três estados — Amapá, Rondônia e Pernambuco — tinham superado mais de 95% dos pequeninos. Onze unidades da Federação nem sequer alcançaram a média nacional de 80%. Rio de Janeiro (66,65%) e Roraima (71,86%) tiveram os piores resultados. A prorrogação da campanha, durante todo o sábado, em 11 estados e municípios, autorizada pelo Ministério da Saúde,  foi insuficiente para que as metas fossem alcançadas.

A resistência e a falta de responsabilidade dos adultos implicam em recrudescimento de doenças até então erradicadas no país, como o sarampo e a paralisia infantil. Por mais de 20 anos, o Brasil ficou sem registrar um caso de poliomielite. As campanhas anuais protegiam 95% ou mais da população infantil. Entre janeiro e abril deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) constatou 995 casos de sarampo, sendo 611 no Amazonas e 384 em Roraima, com duas mortes.

Boa parte desses casos foi importada de países vizinhos e também decorrentes do trânsito de turistas no país. Em abril deste ano, a OMS emitiu alerta sobre a onda de sarampo em 10 países: Argentina, Equador, Canadá, Estados Unidos, Guatemala, México, Peru, Antígua e Barbuda, Colômbia, Venezuela e Brasil. Em junho, o Ministério da Saúde alertou para o risco de poliomielite em 312 municípios, uma doença erradicada no continente desde 1994. Durante décadas, a paralisia infantil mudou a vida de milhares de pessoas em todo o país. As sucessivas campanhas anuais modificaram essa realidade, com a adesão em massa da população às campanhas.

Mas, a partir de 2012, a ideia de que essas e outras doenças evitáveis estavam erradicadas e que a vacinação era desnecessária provocou um relaxamento, e a meta de imunizar 95% dos públicos-alvo começou a cair, não só no Brasil como em vários países latinos e na Europa, o que facilitou o recrudescimento das epidemias. Essa mudança de comportamento foi influenciada por falsas notícias (fake news) em circulação nas redes sociais, como a de que as vacinas provocavam autismo, efeitos colaterais, danos à vida das crianças e dos adultos e a síndrome da morte súbita infantil.

A negligência dos pais e responsáveis com os filhos, ignorando as campanhas de vacinação, tem consequências legais. O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que eles podem ser multados e até perderem a guarda das crianças. Ao mesmo tempo, o poder público não investiu intensamente em campanhas, a partir de 2012, para esclarecer a população sobre a importância da vacinação em massa de crianças e adultos. Tais ações não podem ocorrer somente às vésperas da imunização, mas deve ser algo constante para que a população se mantenha sempre bem informada.

O retorno de doenças do passado implica gastos muito elevados aos cofres públicos. Hoje, está evidente que essas ações têm que ser frequentes para, igualmente, imunizar as pessoas contra as fake news e falácias que podem levar à morte e à volta de moléstias graves, que mudam para pior a qualidade de vida da população. Saúde pública impõe vigilância permanente.

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