Igreja de sacristia

Plutarco Almeida
Sacerdote jesuíta e jornalista

Publicado em: 01/09/2018 03:00 Atualizado em: 02/09/2018 21:17

No Congresso Nacional uma das bancadas mais atuantes é a chamada “bancada da Bíblia”, que por sinal deve crescer nestas eleições. De um total de 28 mil pessoas que registraram candidaturas e estão aptas a disputar cadeiras no Executivo e no Legislativo, 569 fizeram questão de usar algum titulo religioso (pastor, bispo, bispa, padre, irmão, missionário). Esses candidatos e candidatas em sua maioria pertencem às igrejas evangélicas, sobretudo às neopentecostais. Padres católicos são poucos. Bispos? Nenhum, evidentemente. Leigos, uma dúzia talvez.

Não é de hoje que algumas das maiores denominações evangélicas, especialmente aquelas que se organizam em bases empresariais e não obedecem à doutrina do protestantismo tradicional, fizeram uma clara opção de conquistar e assumir o poder. Essas igrejas têm um projeto político, isto é, um projeto de poder bem definido. Os seus líderes são extremamente pragmáticos, obstinados e perseverantes na busca dos seus objetivos. Eles não se envergonham de usar estratégias agressivas de marketing politico-eleitoral no interior dos seus templos para fazer com que seus adeptos votem nos candidatos previamente escolhidos. Votar conforme orientação da igreja tem o mesmo sentido de obediência que leva os fiéis a pagar o dízimo ou dar ofertas em dinheiro nos cultos e concentrações religiosas. Os “milagres” acontecem por causa da oferta e do voto também! Uma vez eleitas, essas pessoas “ungidas por Deus” haverão de defender, logicamente, os variados interesses de suas igrejas.

Por outro lado, a Igreja Católica desde a redemocratização do país tem se posicionado de outra forma. No auge da Teologia da Libertação e das Comunidades Eclesiais de Base, o trabalho de conscientização sociopolítica e a formação de lideranças tiveram muita relevância. Algumas dessas lideranças populares se elegeram e exerceram um papel profético/transformador em várias esferas de poder. Mas, o que temos hoje? Salvo algumas exceções, temos uma Igreja de sacristia, voltada muito mais para a manutenção do seu status do que para um dialogo com a política. Fé e vida andam meio separadas e em alguns lugares já pediram até o divórcio. Embora o Papa Francisco já em diversas oportunidades tenha chamado a atenção dos católicos para a urgente necessidade deste diálogo, ainda é muito tímida a resposta em termos de ações concretas. Iniciativas isoladas de conscientização/formação política podem ser encontradas, mas sem grandes impactos. É claro que não se deve pretender que a Igreja Romana obedeça ao mesmo projeto evangélico neopentecostal de conquista do poder. Não rezaremos na mesma cartilha da bancada da bíblia! Nossos milagres são de graça! No entanto, permanecer assim, na qualidade de espectadores apenas, seria a melhor opção?

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