O risco do caule

Luiz Otavio Cavalcanti
Ex-secretário de Planejamento e Urbanismo da prefeitura do Recife, ex-secretário da Fazenda de Pernambuco e ex-secretário de Planejamento de Pernambuco.

Publicado em: 28/08/2018 03:00 Atualizado em: 28/08/2018 09:17

Democracia envolve certo grau de risco. Por causa dos que dela querem se aproveitar. Para seu próprio usufruto. Como os populistas. Ou para benefício exclusivo de seu grupo. Como os oligarcas.

A democracia traz, em si, a fragilidade da abertura. Ela permite a presença de uns, a infiltração de outros, a participação de todos. E, paradoxalmente, esta é sua força: a democracia é aberta, transparente. E na transparência luta contra os adversários do regime democrático. Por isso, quem não gosta de democracia não quer imprensa livre.

Democracia tem moto próprio. Ganhou uma dinâmica incontornável. Por algumas causas. O crescimento econômico é uma delas. Via mobilidade social. Que incentiva a mobilização política.

Nesse contexto, crescem as expectativas por mais igualdade. Igualdade de acesso. E de oportunidades. Expectativa gera pressão. Exige liberdade. Essa é a história do processo civilizatório.

Nasceu com os barões feudais que, em 1512, determinaram ao rei inglês que prestasse contas dos gastos do reino. Passou pelas ruas de Paris que, em 1789, propiciaram a declaração universal dos direitos do homem. Ergueu o andor vermelho dos bolcheviques que, em 1917, se opuseram aos olvidos do czar. Fixou no olhar determinado de Churchill, em 1939, o horizonte da resistência aos fascismos.

Em sequência, a revolução da educação acelerou a produtividade. Que, como se sabe, é feita de escolaridade. Abrindo caminho para a ciência. Entronizando a consciência dos direitos humanos. Na defesa das minorias. Nessa altura, há uma bifurcação: por um lado, a democracia tornou-se objetivo da classe média. E a esquerda, fragmentada em populismos e perdida no escuro da repressão de ideias, ficou tonta.

Os fatos estão claros na escolha que a sociedade contemporânea fez. Elegendo dois valores: liberdade e igualdade. Igualdade e liberdade. São congênitos na modernidade. Não há igualdade sem liberdade. E liberdade cria resiliência na igualdade.

No cruzamento entre liberdade e igualdade está a classe média. A classe média quer democracia. Quer liberdade na igualdade. E igualdade na liberdade. Por isso, o eleitor brasileiro está tão desconfiado.

De um lado, quem praticou a política de mais igualdade decaiu no abismo da corrupção. E da omissão malsã. De outro lado, quem quiser notícia do alto tucanato paulista, precisa ir até a páginas nunca antes navegadas. Alckmin, Serra e Aloísio estão tendo que prestar informação a investigações. Covas corou.

Aliar-se ao centrão? Ao blocão, ou que nome tenha? É emitir senha prévia de uma entrega que o país não deseja. Daí, a recusa nas pesquisas. Não quero mais do mesmo. A nação quer mudança. Verdadeira.

Mas é preciso não temer a mudança. Por que ter medo de uma seringueira?

Ela não está na Lava Jato. Não tem processo de investigação contra ela. Tem experiência administrativa porque foi ministra. Tem experiência política porque foi senadora. Tem a voz mansa de quem sabe convencer pelo argumento. Sabe escutar. Sabe enxergar.

Por que ter medo de Marina?

Seu vice é conhecido. Seu assessor econômico é reconhecido.

Por que ter medo de Marina?

Marina não é uma flor. Certamente não é uma flor. Mas Marina é caule. Que segura o fruto. E as cores. Do Brasil.

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