Neste 16 de agosto

Marly Mota
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 27/08/2018 03:00 Atualizado em: 27/08/2018 09:24

Neste mês de agosto, no dia 16, foi aniversário de Mauro Mota, data repaginada de lembranças do cotidiano, poesias, epitáfios, despedidas, conduzindo seu passaporte: Dava adeus a si mesmo / na ponte sobre o cais / A cada hora partia-se / para não voltar mais. Na sala, na mira afetiva, dois excelentes quadros. Retrato de Mauro Mota, em Bico-de-Pena por Gil Vicente, Soneto a Mauro Mota, de João Câmara. Juntos participamos de exposições em Olinda e "Pernambucanos em Brasília" prestigiando à iniciativa, o excelente escritor, à época governador de Pernambuco Gustavo Krause, representando o governo federal o sociólogo e escritor Marcos Vinícius Vilaça. Na mesma sala, a cômoda de jacarandá, onde encontro alguns raros livros. Num deles, leio essa dedicatória, extensa, lírica e afetuosa: Mauro; esta noite de 16 de agosto de 1954, véspera do meu regresso ao Recife, andei pelas ruas de Saint Germain, me despedindo de Paris. Passei pelos cafés cheio de gente: gente vinda de todos os quadrantes da terra, falando as línguas mais diversas e vestindo as roupas mais bizarras. Essa atmosfera de Saint Germain nunca mais me sairá da lembrança. Foi quando entrei numa casa que é, ao mesmo tempo, livraria, galeria de quadros, exposição de objetos mais disparatados. E, no meio dos quadros, desenhos, máscaras negras e amuletos africanos, descobri este livro, que lhe ofereço como lembrança desta minha quarta viagem a Paris, que espero em Deus não seja a última: porque quanto mais aqui venho mais vontade tenho de voltar. Tudo me agarra a Paris como um visgo. No fundo de mim mesmo, sinto-me um homem desta cidade, cujo rio gosto de ver rolando sob essas pontes de mansinho. É que tudo aqui e ali me evoca o Recife, pois na verdade, quando estou no Recife, gosto de vir a Paris e quando estou em Paris gosto de voltar ao Recife. Do velho amigo Aníbal Fernandes.

Em agradecimento, na sua coluna Agenda 1-1-1967 escreve Mauro Mota: O livro, é " Les Sentiers et les Routes de la Poesie,de Paul Eluard, Edição Gallimard, A data: é do meu aniversário, do então pobre secretário deste jornal. Lembrá-la em Paris, nada significou de extraordinário em Aníbal Fernandes: foi qualquer coisa de comum para sua imensa afetividade. A dedicatória reafirma o amor dele a Paris. Quase sempre os autores franceses, a França, os estilos franceses, e não só os da arte os da literatura, os do jornalismo, nos estilos de Aníbal Fernandes. Sempre o Recife e Paris as cidades de sua paixão a ponto de pretender identificá-las em todos os aspectos afetuosas lembranças, encontro o livro: Paris, Cidade do Pensamento Livre, com oferecimento a Mauro e a mim. Um dos mais belos ensaios sobre Paris, escrito pelo insigne jornalista Aníbal Fernandes, quando diretor do Diario de Pernambuco, com Mauro Mota secretário, agitador cultural do suplemento Literário que marcou época.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.