Editorial A fatura do dólar alto

Publicado em: 27/08/2018 03:00 Atualizado em: 27/08/2018 09:22

O dólar encerrou a semana com alta de quase 5%, o pior resultado semanal desde novembro de 2016. Boa parte da forte desvalorização do real decorreu das incertezas em relação às eleições de outubro próximo. Na visão dos investidores, é grande o risco de o próximo presidente da República não ter compromisso algum com as reformas que o país tanto precisa para voltar a crescer e a criar empregos.

Os sinais emitidos pelo mercado, mesmo que embalados pela especulação, são contundentes. Explicitam aos postulantes ao Palácio do Planalto que não há espaço para aventuras. Não serão medidas extremas ou populismo barato que vão resolver os graves problemas do Brasil. É preciso seriedade e compromisso com ações consistentes que resgatem a confiança dos agentes econômicos.

O país já pegou um preço alto demais. Foram as estripulias cometidas por Dilma Rousseff que empurraram o Brasil para uma das mais graves recessões da história. Em apenas dois anos, 2015 e 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu mais de 7%. O desemprego saltou de pouco mais de 4% para 14%. Com isso, 27 milhões de pessoas ou ficaram sem trabalho ou passaram a receber menos do que necessitam para bancar gastos essenciais. Não é só: as contas públicas ficaram estraçalhadas. Estamos no quinto ano seguido com as finanças no vermelho.

O dólar em alta tem efeitos pesados na economia. Bate direto no bolso dos consumidores e no caixa das empresas. Todos os produtos que dependem de insumos importados ou têm cotação internacional ficam mais caros. São os casos, por exemplo, do pãozinho francês, das massas, dos biscoitos, da gasolina, das carnes de boi e de frango, dos medicamentos. Os especialistas, inclusive, já projetam inflação maior caso a moeda norte-americana se mantenha, por muito tempo, acima dos R$ 4,10.

Há uma leva de analistas, inclusive, cogitando a possibilidade de o Banco Central elevar a taxa básica de juros (Selic) ainda neste ano como forma de conter a inflação de 2019. Como os juros demoram entre seis e nove meses para fazer efeito sobre o custo de vida, o BC não pode se dar ao luxo de adiar, por muito tempo, o aperto monetário. Sobretudo, se levarmos em consideração que as metas de inflação para os próximos anos serão menores: 4,25% em 2019, 4% em 2020 e 3,75% em 2021.

Sendo assim, é vital que os candidatos não alimentem, com declarações fora de propósito, os movimentos especulativos que empurrem o dólar para cima. O Brasil precisa de tranquilidade para superar esse momento difícil até que o eleito nas urnas possa colocar em prática um projeto de tire o país do atraso. O sobe e desce da moeda norte-americana é comum em períodos eleitorais, mas, neste ano, com tantas incertezas no horizonte, a possibilidade de se extrapolar todos os limites do bom-senso é grande. Juízo é fundamental.

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